Bato palmas sim para a banqueira Leila Pereira, o perfume de dona do futebol brasileiro

Leila Pereira 1

Por Simão Zygband

Leila Pereira 1

 

Assisti o quanto pude a entrevista da Leila Pereira, a presidenta da Sociedade Esportiva Palmeiras, no programa Roda Viva da TV Cultura.

Confesso que para uma empresária dona de banca de empréstimos consignados, uma banqueira, ela é bastante despojada e vende bem o seu peixe, a Crefisa, que tem ela e seu marido José Roberto Lamacchia como gestores.

Vamos combinar que não é comum uma mulher, detentora junto com Lamacchia uma fortuna avaliada em R$ 8 bilhões, ter a desenvoltura que a Leila tem. Em geral, este tipo de bilionário costuma frequentar outros ambientes mais sofisticados que não é exatamente o do futebol, mais afeitos ao craque Neto ou ao indefectível Vampeta. O máximo que o mundo do futebol machista consegue ter, sem um olhar feminino, é a péssima percepção de comer bife de ouro em plena disputa da Copa do Mundo no Catar.

Confesso que achei o cúmulo a ida de alguns jogadores brasileiros para fazer festinha em um churrascaria do bife de ouro naquele país árabe, protagonizada pelo também empresário de futebol, Ronaldo Nazário, o “Fenômeno”, uma das eminências pardas da seleção brasileira fracassada na última Copa do Mundo.

Ronaldo encampa uma personalidade da camaradagem existente no ambiente machista e exibicionista do futebol profissional brasileiro, que tem como outros ícones, o baladeiro bolsonarista assumido, Neymar Junior ou ainda o estuprador colocado em liberdade por pagar R$ 5 milhões de fiança, Daniel Alves.

Em uma das folgas da seleção brasileira durante a Copa do Mundo, Ronaldo reuniu alguns atletas e levou a turma para comer a tal carne de ouro, que ficou famosa durante o torneio no Catar. Óbvio que era absolutamente inoportuna e desnecessária a ida à churrascaria do reluzente alimento, considerado, evidentemente como uma ostentação exagerada.

Questionado pela imprensa sobre o episódio, Ronaldo tomou a frente para defender os jogadores (e a si mesmo) que tinham ido fazer a estúpida exibição, de se lambuzar com o reluzente alimento: “Se comeu a carne folheada a ouro, problema do cara. É uma p*** experiência gastronômica também, e você está em um lugar que provavelmente não vai voltar. Não tem nada de errado. Inclusive, se você for com um pouquinho de bom senso, pode ser inspirador para outras pessoas. Tem coisas que é melhor a gente ignorar completamente, mas você vê uma continuidade do discurso do ódio tão grande… Mas é uma inveja, uma covardia, é desproporcional”, declarou o queridinho da seleção derrotada no Catar.

Isso, é óbvio, serviu como um péssimo exemplo que acabou contaminado o grupo tendo Ronaldo Nazário atuando nos bastidores, mas com uma linha de frente com Neymar Jr. e Daniel Alves, que dispensam apresentação. Tenho a impressão, senão a certeza,  que Leila, como chefa da delegação da seleção brasileira, jamais permitiria uma demonstração estúpida de desrespeito e descompromisso com a Copa do Mundo (e por tabela com o país), como foi a ida ao restaurante das carnes de ouro, que não entendiam absurdo que era para milhões de brasileiros, durante o governo do ídolo de Ronaldo, Neymar e companhia, o inelegível Jair Bolsonaro, muitos dos quais obrigados a comprar osso para engrossar a sopa. Criou-se no Brasil rico e próspero, a fila do osso.

Leila é bilionária, banqueira, vive de usura como todos os banqueiros do mundo. Mas transpira uma simplicidade incomum nos bilionários. Ela decidiu investir no futebol. Deu certo. Teve o chamado faro para a oportunidade, para o negócio. Isso ninguém pode negar. Contou durante o Roda Viva que a ideia de investir no Palmeiras surgiu em um bate papo com o marido no café da manhã. E que ele está proibido (por ela, óbvio) de se meter nos negócios do clube. Já viu. É o perfume de dona no futebol.

Bato palmas sim para a banqueira Leila Pereira.

Simão Zygband

Simão Zygband é jornalista em São Paulo, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas. Fez campanha eleitorais televisivas, impressas e virtuais, algumas vitoriosas

 

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