Por Tom Cardoso
– Tom, você precisa vir aqui no bloco Abacaxi do Irará.
– Nem fudendo. Odeio cuíca. Domingo então.
– Deixa de ser chato, Tom. Sabe quem é que tá aqui, né?
– A Laerte de bojo?
– Não, porra. Ela tá aqui.
– Ela quem?
– Ela, caralho. Débito ou crédito? Maquinhinha.
Pulei do sofá.
– Alessandra Negrini?
– Sim. Ela tá aqui com a gente. Vem pra cá.
Para passar a tarde de domingo com a Ale eu encaro até show do Criolo com o Emicida.
.
Cheguei nas Perdizes. Já comecei a gostar.
Como são maravilhosas as mulheres da esquerda-cirandeira.
Senti o perfume da revolução, uma mistura de incenso indiano com haxixe e grão de bico.
Vi um grupo de meninos e meninas malhando três bonecos como se fossem Judas.
O trio do apocalipse: Trump, Netanyahu e Milei.
Eu adoro qualquer tipo de proselitismo político.
O praticado pela direita é sempre mais divertido, tosco. Mas o da esquerda também tem seu valor:
Cheguei chutando a fuça do Milei.
– Viva a Revolução Bolivariana!
– É isso aí, tio, tamo junto!
Coloquei mais pilha:
– Bomba no Copom, inimigo do povo!
– Estatização do Bradesco!
– Fogo nos fascistas! No Borba Gato! E na Tábata Amaral! (tadinha).
Estava quase sendo carregado nas costas pela molecada, quando vi uma linda morena de peito de fora.
Lembrei de Caetano:
“La leche buena toda en mi garganta
La mala leche para los puretas”
Ela percebeu meu olhar. E veio na minha direção.
– Você está me objetificando?
– Como?
– Respeita as minas, cara.
– Respeito e admiro.
– Babaca. Macho opressor.
O negócio tava começando a ficar feio, quando senti um par de mãos macias tampar o meu rosto.
-Adivinha, Tonzito?
Uma das penas do cocar roçou na minha nuca. Nem precisei adivinhar.
Era a Ale. Só consegui dizer uma frase:
– Trouxe a cuíca?
Tom Cardoso é jornalista, escritor e crítico musical
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