Os paulistas podem se preparar. A Equatorial, que fornece energia a cerca de 80 municípios gaúchos, incluindo a região metropolitana – e que transformou os serviços num desastre –, foi a única empresa a oferecer proposta para ser acionista de referência da Sabesp, a companhia estatal de águas e saneamento de São Paulo.
O grupo vencedor dessa etapa indicará o presidente do conselho de administração da companhia e um terço dos integrantes do conselho. A privatização será completada em julho.
A Equatorial ficaria, na arrancada do processo de venda do controle da companhia, com 15% das ações, pagando R$ 6,9 bilhões. Mas como, se a Equatorial não tem dinheiro nem para a manutenção das redes de energia de Porto Alegre?
Como a Equatorial vai lidar com água e saneamento do maior Estado do país, se assumiu em 2021 esse setor no Amapá, e o Amapá tem até hoje os piores serviços dessa área em todo o Brasil?
Como a Equatorial pretende ser parceira privada de São Paulo numa área que não domina, enquanto se sabe que a área que seria a da sua expertise, que é a de energia, é tratada com desleixo criminoso no Rio Grande do Sul e em outros Estados?
O Globo passa pano e diz que, na área de energia, “a empresa ganhou musculatura nos últimos anos”. Informa o jornal que o grupo é o terceiro maior em distribuição de energia do país em número de clientes.
O grupo tem sete concessionárias, nos Estados do Maranhão, Pará, Piauí, Alagoas, Rio Grande do Sul, Amapá e Goiás, atendendo cerca de 14 milhões de clientes nessas regiões (15% do total do país), o que representa presença em 31% do território nacional.
A Equatorial que o Globo apresenta como musculosa enfrentou uma CPI no Piauí, por serviços precários, e é investigada por outra CPI da Câmara de Vereadores de Porto Alegre desde fevereiro.
A companhia já foi multada três vezes pela Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) pela incapacidade de manter os serviços em padrões mínimos.
Deficiência numérica e falta de qualificação dos quadros técnicos, terceirização de atendimento de campo e lentidão no atendimento de demandas, principalmente depois de tempestades, são acusações recorrentes contra a Equatorial.
A empresa transformou a vida dos gaúchos num inferno e fez com que a maioria sinta saudade dos serviços da CEEE, mesmo que a estatal tenha sido sucateada para ser esquartejada e vendida aos pedaços.
As informações a seguir foram publicadas pelo Brasil de Fato, sobre depoimento do diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Senge-RS), Diego Mizette Oliz, na CPI da Câmara de Porto Alegre.
“Oliz pontuou também a brusca redução no quadro técnico da empresa. “Nós tínhamos no quadro da CEEE 85 engenheiros representados [no sindicato], esse quadro reduziu pra 22 engenheiros. Hoje chega a 32, com os engenheiros contratados pela Equatorial”, explicou.
Questionado sobre o Programa de Demissão Voluntária (PDV) que tirou 998 profissionais da CEEE Equatorial, Oliz avaliou que houve um decréscimo considerável na qualidade da prestação do serviço. “Se perdeu parte da engenharia, parte da técnica, nenhum desses profissionais [demitidos] tinha menos de onze anos de experiência”, avaliou. Ele apontou os déficits na rede, fora os eventos climáticos, e que Porto Alegre tem mais de 1 milhão de consumidores, o que demanda maior atenção por parte da empresa”.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)