Aulas presenciais confrontam direção e professores de escolas particulares

Por Simão Zygband

Charge de Maringoni

 

Reportagem do jornal O Estado de São Paulo desta sexta-feira (23), com o título “Escolas privadas de elite de SP enfrentam embates com professores que não querem aulas presenciais”, de autoria da jornalista Renata Cafardo, mostra, de maneira tendenciosa, uma guerra surda que existe nas escolas particulares, que obrigam os professores a voltarem a lecionar em sala de aula, mesmo com a pandemia ainda estando em nível crítico no estado, onde já morreram cerca de 91 mil pessoas, entre as 384 mil ocorridas no Brasil. São nada menos do que 12,5 milhões de infectados pela Covid- 19 na Capital e Interior.
Mesmo assim, diante de cenário tão adverso, os proprietários de escolas particulares (em sua grande maioria) exigem que os professores voltem a realizar aulas de corpo presente.

Eles também são pressionados por pais negacionistas que querem que seus filhos saiam de casa e vão  para a escola, mesmo que para isso coloquem a vida deles em risco.
As entidades mantenedoras das escolas particulares querem que elas sejam reabertas por que identificam um desconforto dos pais em efetuar o pagamento de mensalidades elevadas (de R$ 4 mil reais ou mais mensais), sendo que as crianças e jovens somente recebem apenas aulas virtuais, muitas vezes não tão efetivas. Elas acreditam em uma queda de receita e do aumento da inadimplência, o que os faz pressionar os professores.
Mesmo se iniciando a vacinação contra a Covid-19 dos professores, que caminha de forma ainda lenta, os profissionais relatam um verdadeiro clima de terror dentro das escolas, com a direção efetuando forte pressão pela retomada das aulas presenciais.
Em uma das escolas privadas localizada na zona Oeste de São Paulo, já houve experiência da retomada de aulas presenciais, com resultados bastante críticos. Já aconteceu o falecimento, depois da reabertura, de familiares de professores e auxiliares que, suspeita-se, tenham contraído o vírus na escola e o transmitiu em suas residências. Há notícias de que vários professores contraíram a doença.
A pressão sobre os funcionários chegou a tal ponto que a diretora de uma escola particular queria realizar reunião presencial com os pais de alunos e exigiu que os professores que fossem falar em um auditório retirassem a máscara na hora da exposição. Todo este clima se reproduz em vários estabelecimentos e, claro, com muita revolta e medo. Até a deflagração de uma greve está sendo analisada para permanência das aulas virtuais. Por sorte, por pressão da categoria, a ideia (absurda) de reunião de país em auditório foi descartada.

Sentença judicial

As entidades representativas dos professores (SinproSP, Fepesp, Apeoesp e Sinpeem) haviam conseguido em janeiro medida cautelar contra o decreto 65.384 de dezembro de 2020 de autoria do governador João Doria, que exigia o retorno as aulas presenciais. Logo em seguida, as escolas obtiveram uma liminar derrubando a ação.
Em março, a juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti determinou que as escolas, públicas ou privadas, não poderiam “determinar ou autorizar a convocação de professores durante as fases vermelha e laranja do Plano São Paulo”. Para a magistrada, “a retomada das aulas presenciais deve ocorrer numa situação de maior controle da pandemia, com redução dos números de internações e mortes, com base em estudos técnicos e científicos condizentes com a realidade”.
Evidente que as escolas não cumpriram a decisão judicial alegando que os professores das escolas particulares não estariam abrangidos pela sentença. Depois, que o sindicato patronal não era parte da ação. O desrespeito à Justiça construiu um clima de insatisfação entre os professores, que prometem resistir.
A sentença judicial está em vigor e precisa ser respeitada. As escolas não podem apenas desrespeitar a decisão de uma magistrada. Tudo leva a crer que os professores irão resistir.

 

 

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