Até quando vamos ignorar Sérgio Moro?

Por Arnobio Rocha

 

A que horas nós, de esquerda e progressistas em geral, vamos parar de subestimar o ex-juiz Sérgio Moro? A lição de 2018 não foi aprendida? Todas e todos tomávamos a candidatura Bolsonaro como caricatura, não era para ser levada em consideração, um folclórico candidato, não representava nada, com 15 segundos de propaganda.

Óbvio que Bolsonaro não era a opção do grande Capital, nenhum grupo econômico apostou nele, nenhum grupo de mídia, era realmente um candidato sem expressão com uma pauta de ultradireita que a própria direita tinha vergonha de até aparecer numa foto, num encontro casual, com receio de ser identificado com a escória que ele representava, todos sabiam suas ligações no submundo complexo do Rio de Janeiro e atuação dele e dos filhos nos vários legislativos que tinham mandatos.

Entretanto, Bolsonaro, captou toda aquela onda de negação de TUDO, da Política, da Democracia, do que era o Estado, mesmo com todo histórico de negócios familiares e das conexões, ele encarnou o Anti-candidato contra tudo que estava ali, especialmente contra a “Corrupção”, e como ele sempre foi visto contra o PT foi o beneficiário, ou soube galvanizar para si, aquela onda de extrema-direita mundial, o exemplo do Trump não tinha sido o bastante para nós, os “grandes” intelectuais da Política.

O que fazemos nesse momento em que Bolsonaro está em queda livre? Comemoramos, sem, no entanto, entender que ele ainda mantém um patamar significativo de apoio eleitoral, um patrimônio da onda extremista (a meu ver) que, por enquanto, ainda está fechada com ele, mas pode migrar para alguém que professa a mesma ideologia, ou seja, para seu gêmeo siamês, Sergio Moro.

Claro que é engraçado rir muito das gafes e falas do ex-juiz, da voz esquisita, do inglês macarrônico (não muito pior do que da maioria de nós), dos discursos sem sentido, das citações equivocadas e dos vídeos toscos, tudo é motivo para chacota e ele bem merece, até mais, tem que ser ridicularizado ao extremo, sem nenhuma dó.

Todavia, o centro da polêmica com Moro não é a galhofa, ou vamos seguir a mesma receita que usamos e fracassamos diante de Bolsonaro?

Do meu ponto de vista devemos travar o debate político e com extremo cuidado, exceto na esquerda e em parte da intelligenzia, sabe-se que ele é o juiz inescrupuloso, incompetente e que corrompeu o judiciário, foi parte de uma trama escandalosa em perseguia ao principal líder político brasileiro, que condenou sem prova, e foi decisivo para o Impeachment, sem crime.

Tudo bem, nós sabemos disso, também sabemos que a extrema-direita ainda não migrou para sua candidatura, pois há uma disputa entre os irmãos siameses, Bolsonaro e Moro, e não houve, ainda, uma adesão da grande mídia para o apoio aberto e que ele pode ser o novo anti-PT, anti-Lula, o homem que combateu a “corrupção”.

Percebo que Moro parece ter encontrado uma equipe de marketing, ainda no estilo Bolsonaro, nada muito elaborado, mas já houve uma mudança de comunicação, perceptível, nas redes sociais dele. Dificilmente o Twiter de Moro é pilotado por ele, há uma clara evolução e direcionamento do discurso, o que não pode ser subestimado, a fase do riso, acredito, passou.

Comecemos a perceber que já se trata de uma candidatura, de alguém que começa a se afirmar num campo alternativo, na extrema-direita, ao Bolsonaro, e já faz um embate de criminalização da política contra o PT e contra Lula. Esse discurso contra Corrupção ainda cola? Tem repercussão de massa? Será o fator decisivo eleitoral?

As pesquisas qualitativas responderão, nesse artigo quero apenas levantar alguns alertas políticos, não é uma verdade, mas um debate mais sólido, de preparação do combate eleitoral e um aviso:

“Parem de subestimar Moro”

Posso estar errado, devo estar, mas algo me diz que as lições de 2018 ainda não foram entendidas completamente. Ainda é cedo, a campanha não começou efetivamente, podemos melhorar o discurso, entre risos e seriedade, que a realidade exige.

Feliz 2022, com Lula Presidente.

 

Arnobio Rocha é advogado e colaborador do Grupo Prerrogativas

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