Por Virgilio Almansur
Um congresso hediondo! Submetido à ordem eleitoreira, nossos representantes se igualam. E não venham me dizer que a exceção na câmara alta foi corajosa como alguns articulistas aventaram. Não! A “exceção” ali foi conveniência de quem já não mais aspira nada e, se assim não fosse, faria o mesmo discursinho dessa oposição medíocre e indecente.
Logo, logo, na Folha de São Paulo, Janio de Freitas dirá algo como o que é favorecer a situação com bilhões e que isso foi também o que o senado, dirigido por um mamulengo irresponsável fez: ladroagem eleitoral!
O caminho adotado a 90 dias das eleições, já sob conturbadas manifestações explicitamente antidemocráticas, abre uma fenda de possibilidades “emergenciais”; como aquela que impôs tutela na segurança do Rio de Janeiro com a figura abjeta e abstrusa de mais um brega do inglório exército.
O expediente com ares de emenda a projetar uma constituição sob suturas, traduz a nossa medianidade e suas características abomináveis; em especial, a dessa política que se mistura às feições fascistóides.
Triste notar que essas abominações nos tornam reféns de uma ética presumidamente violenta e que aponta à confecção de pretensas ideologias sob cognição precária. A má fé nos contempla!
No entanto, aquela trilogia de Marilena Chauí estava presente em nossos representantes medianos. O componente fascista, a violência e a ignorância. Somos aquilo ali! De cabo a rabo!
Quê esquerda é essa que vota por um golpe emergencial? Esteve também às portas de outro golpe parlamentar há seis anos? Se não manifestos, latentes?
Há um contra-ardil nessa empreitada! O atalho que se abre a outras investidas encontrará ressonância. O tiro-no-pé eleitoral no projeto eleitoreiro bandido abre flanco enorme a outras “emergências” se tomadas como respostas às “convulsões”.
O galo cantou na Ucrânia como pode cantar no Chile, Colômbia, Peru. Nessa geopolítica de “aproximações” para evento social beneficente, nada obstará esse desgoverno, lamentavelmente apoiado por uma oposição vagabunda, intentar contra “valores democráticos” consagrados como as eleições.
Se imaginarmos a construção de eventos secretos e dirigidos, que contemplaram parcela significativa de parlamentares, quem sabe já estejamos sob indecência esmolar atenuadora. Um aqui agora impensável de nossos políticos cujo corporativismo tende a ocorrer, aponta para um certame de proporções impensáveis em 02/10/22.
Outubro contará com candidatos tendentes à repetição desse congresso ignominioso. Será um evento desproporcional, cujas chances estarão pendentes às reeleições. A grana que perpassa sob secretude é sintoma de que ali o resultado tem mais fundamento do que o processo em si na construção política.
Remendos são todos os que apareceram no horizonte de nosso parlamento nesses dias em que máscaras caíram. São de ordem corrupta! É a banalização da lei sem correspondência legítima, mesmo que legiforme. A corrupção toma corpo nos interstícios legais anulando qualquer manifestação de responsabilidade.
A irresponsabilidade é tanta, que reverter danos ao próximo governo aponta uma oposição (parte) sem compromissos de longo alcance quando não é impossível, esta mesma oposição, estar na situação em 23.
Mas não fiquemos tão somente com essas lambanças. Termino aqui com as palavras de Janio a suscitar uma reflexão: “situacionista ou oposicionista, quem votou no Senado e quem votar na Câmara pela emenda que derruba a proibição de gastos eleitoreiros nos 90 dias antes da eleição — fundamento das regras anticorrupção eleitoral —, não está dando um voto. Está contribuindo para a permanência dos assediadores de mulheres, a já prometida liberação geral do porte de arma, as milícias, o desmatamento e as extrações ilegais da Amazônia, o garimpo e o contrabando, os cortes de verbas da saúde e da educação, a repressão à cultura, os privilégios a militares e policiais, o racismo e variadas fobias desumanas.”
Não dá para dormir com essas imundícies!
Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.