Assange na iminência de ser deportado para os EUA

Por Luiz Felipe Miguel 

O fundador do WikiLeaks perdeu o último recurso na justiça britânica e está na iminência de ser deportado para os Estados Unidos – que querem se vingar da revelação dos crimes de guerra cometidos no Afeganistão e no Iraque.

Desde que divulgou os documentos vazados por Bradley Manning (hoje Chelsea Manning), em 2010, Assange vive um pesadelo. Perseguido pelo governo estadunidense, foi primeiro acusado – na Suécia – de um crime sexual. A acusação, que anos mais tarde a justiça determinou como falsa, era um pretexto para prendê-lo e, assim, possibilitar a extradição para os Estados Unidos.

Assange escapou da Suécia e se entregou às autoridades do Reino Unido, mas a ameaça da extradição voltou e ele acabou se refugiando na embaixada do Equador, em cujo prédio viveu de 2012 a 2019. Traído pelo então presidente equatoriano, Lenin Moreno, foi novamente preso pela polícia britânica. Está na cadeia desde então.

Os Estados Unidos nunca desistiram do pedido de extradição. Foram várias tentativas, até que Priti Pratel, a deputada hiperconservadora que ocupava o cargo equivalente a ministra do Interior do Reino Unido, aceitou – em frontal violação do tratado entre os dois países, que afirma que “a extradição não será concedida se o crime pelo qual for solicitada for um crime político”. Ainda assim, os apelos da defesa de Assange foram negados.

Os documentos que o WikiLeaks divulgou revelam crimes de guerra e a espionagem agressiva dos EUA contra outros países, inclusive “aliados”. Mas o problema, para sucessivos governos estadunidenses, não são os fatos – e sim que tenham sido tornados públicos.

Assange ainda vai insistir, com recursos extraordinários à justiça britânica. Mas só a pressão da opinião pública internacional pode salvá-lo de ser mandado para os Estados Unidos – onde o aguardam um julgamento enviesado e uma sentença para o resto da vida numa prisão de segurança máxima.

O caso todo mostra como a defesa da “liberdade de expressão” é seletiva. O calvário de Assange merece pouquíssima atenção da mesma imprensa que está pronta a gritar “censura” cada vez que se fala democratizar a mídia.

Cabe elogiar o presidente Lula, que não esquece do caso, nem se furta a defender o ativista australiano em declarações públicas.

Luis Felipe Miguel é doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasilia (UnB), onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê).

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