As vítimas nada anônimas do Covid-19

Por Simão Zygband

Ontem se foi o Vilson Oliveira, militante histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) na Zona Leste de São Paulo, filho da Dona Alzira, que também se foi vítima da mesma doença há menos de um mês. Ele era irmão da Vivi e da Vera, tios e mãe da minha amiga Bárbara Barbosa, que no início do ano retornou dos EUA para presenciar esta tragédia familiar, de enterrar a sua vó Alzira e o seu tio Vilson em pouco mais de um mês.
Hoje foi a Alice, do restaurante Sol Nascente, ponto de encontro dos intelectuais da São Luiz do Paraitinga, um dos melhores da cidade situada no Vale do Paraíba. E há um ano já se foram milhares de Joãos, Marias, Pedros, Sandras, Ricardos, Helenas, e tantos outros brasileiros que ficaram à mercê do coronavírus, fruto da irresponsabilidade do governo genocida de Jair Bolsonaro e seus boçais seguidores.

Estamos na casa dos 360 mil mortos, uma média de quase 4 mil óbitos diários. O Brasil tornou-se um pária internacional.

No início do ano, na passagem do réveillon, estive em Paraitinga, terra de Osvaldo Cruz, o pai da vacina brasileira, e lá me surgiu uma ideia: por que os moradores da cidade não organizavam uma manifestação em frente à casa de Osvaldo Cruz exigindo que Bolsonaro comprasse as vacinas redentoras e as distribuísse para todo o pais?

Procurei a Alice no restaurante, por sugestão do meu amigo Mouzar Benedito, frequentador de Paraitinga e um dos líderes do movimento do Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci), cuja sede é exatamente no Sol Nascente. Ela estava absolutamente tomada pelos afazeres do atendimento delivery para as festas de réveillon. Sabia que o apoio dela seria fundamental para o sucesso do ato.

Alice quase não teve tempo de me ouvir. Falei a ela, rapidamente, da intenção de fazer o ato em Paraitinga pelas vacinas, que seria muito simbólico, com um abraço à casa de Osvaldo Cruz. Ela, sem muito tempo para refletir, cansada que aparentava estar, me perguntou: “mas você quer fazer um ato presencial em plena pandemia?”.

Preferi não insistir, pois vi que ela não teria tempo sequer para me dar atenção. E de fato, outros luizenses encamparam a ideia e realizaram uma linda atividade exigindo a vacina, declamando, cantando e lendo um manifesto na frente da casa do Osvaldo Cruz, hoje transformada em museu.

Destaco o empenho do produtor Alexandre Genari, que acabou organizando o evento,  que ganhou inclusive a cobertura de mídia do portal G1 e da Band Vale, bastante importantes para a região.
A Alice não topou participar desta atividade, mas era personalidade fundamental na vida de São Luiz do Paraitinga e não era de fugir da raia. Simplesmente se sentiu insegura de fazer uma atividade pública, tinha respeito pelo vírus, mas como se pode perceber, o contraiu de outra maneira, justamente ela extremamente disciplinada contra ele. Assim, presto aqui minhas homenagens a pessoa tão importante e querida em Paraitinga.

Alice é símbolo de como o vírus não escolhe sexo, idade, raça, gênero ou classe social. É bem verdade que tem dizimado, sobretudo, os mais velhos, mas agora começa atingir com fúria a juventude.

Desnecessário dizer da responsabilidade do genocida Bolsonaro, um suposto presidente da República que nada fez para conter a voracidade da pandemia. Um ser desprovido de sentimentos humanos, que sorri da desgraça alheia.
Mas o povo brasileiro saberá se livrar do seu algoz. Isso será feito em memória de Vilson, Alice, dona Alzira e tantos que tiveram suas vidas interrompidas pelo coronavírus.

#forabolsonaro.

Foto: Alice do Sol Nascente-acervo pessoal

 

 

Resposta de 0

  1. Conheci Alice na Paraíba, apesar de paulista. Saudades do Sol Nascente, da gentileza da Alice, sua comida. A gente conserva pessoas queridas na memória como se ainda estivessem aqui.

  2. Poxa !!! Muito triste..😢 Esse mês de abril fazem exatos 26 anos que conheci a Alice e o Jô Amado …No antigo restaurante Sol nascente… Nós morávamos em São Paulo e quando vínhamos pra São Luiz passear, a primeira coisa era passar no canto verde (Eterno Nhô Frade) e logo depois no Sol nascente… Irão deixar saudades…

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