Por Alfredo Herkenhoff
Nas últimas horas, a Casa Branca, Londres e Bruxelas indicaram abertamente que estão começando uma campanha para derrubar Viktor Orban, o extremista de direita. O presidente e seus auxiliares estão sob ameaça de sofrer sanções pessoais. Orban nunca roubou urnas nas cinco eleições que venceu surfando na onda nacionalista de um pequeno povo saudoso de tempos do império austro-húngaro. Orban ficou forte com campanha de xenofobia contra refugiados, especialmente os não-cristãos. Nenhuma eleição em Budapeste foi contestada porque a urna era eletrônica, como no Brasil do capetão, ou porque a urna não era eletrônica, como no caso de Trump derrotado na eleição de Biden com aquela profusão de modelos de cédulas em papel presencial ou via correio. Orban elegeu sem grande ajuda de big techs.
Por motivos semelhantes de eurocentrismo xenófobo, a extrema direita está forte na Itália, França, Alemanha, Holanda, Suécia, Finlândia, etc, e nenhum desses países invoca lenga-lenga como Bolsonaro, Trump e Aécio pra não aceitar a derrota numa eleição normal da democracia liberal.
O golpe de Estado contra Dilma e Lula foi urdido pelo governo Obama, supervisionando e treinando a gangue do Paraná. Os motivos do golpe foram a descoberta do Pré-Sal, o papel importante de Lula na criação do BRICS e a briga de Dilma para forçar a agiotagem dos poucos bancos a baixar juros. A Globo só entrou no esquema do golpismo lavajatista quando o FBI pegou a cambada da Fifa na Suíça e avisou que tinha elementos para pegar a Venus Prateada no esquema dos contratos de transmissão de jogos. Os militares aderiram pegando carona no golpismo e usando Bolsonaro como cavalo de Troia.
Rodrigo Tacla Duran não era um funcionário a mais na Odebrecht, que chegou a ter quase 180 mil empregados quando construía o novo aeroporto de Miami, a ponte no Rio Tejo, a ponte no Rio Negro em Manaus, despoluía parcialmente o Rio Itapemirim, canalizando o esgoto no Meu Pequeno Cachoeiro. A Odebrecht ajudava o Brasil a crescer. O PIB de 2009 foi igual ou maior do que o da China? A empresa não era mais corrupta do que nenhuma grande multinacional americana, árabe ou europeia. Fazia obras tanto em Cuba quanto na riquíssima Califórnia…
Mas Tacla Duran, dupla nacionalidade, Brasil e Espanha, nasceu em família rica no Paraná, onde Tacla erguia prédios e shopping center. Não era alto funcionário da empreiteira. Era um diretor de ponta numa área top, sensível. O advogado Tacla Duran é um especialista em legislação tributária de inúmeros países grandes e pequenos, incluindo os paraísos fiscais, que são hoje cerca de 80 ou quase 100 nos cinco continentes. Era também doleiro, apelido para advogados especialistas em transferir dinheiro de um pais a outro graças aos seus contatos com outros especialistas do setor atuando em diversos países. E Tacla Duran era e é também um expert em TI, Tecnologia de Informação.
Por causa desses atributos, ele, que trabalhou por seis anos na Odebrecht até virar alvo da quadrilha de Curitiba, ganhava mensalmente alguma coisa entre 200 mil e 300 mil dólares por mês. Ganhava entre salários e bônus de performance uma fortuna porque agilizava os pagamentos feitos a partidos, políticos corruptos, empresários corruptos e concursados da Petrobras. Paulo Roberto Costa, por exemplo, entrou na Petrobras por concurso nos anos 70. Nos anos 90, já operava na cúpula. O PT não levou a corrupção à estatal. Ela já estava lá. O PT reduziu os percentuais de corrupção ao fortalecer PF e MPF, mas a redução não foi vista assim porque a Petrobras crescia exponencialmente com o Pré Sal e as novas instalações. O público, com a guerra híbrida em curso, propaganda diária de Globo e JN, teve a sensação de que a corrupção era a maior do mundo e que e estatal estava quebrando. Tudo mentira.
Mas Tacla Duran ganhou ainda mais importância dentro da Odebrecht quando prenderam Marcelo e outros altos executivos. O advogado ganhou novas missões: descobrir furos, localizar provas sobre os desmandos e a corrupção dos que estavam atacando o setor mais eficiente da economia na Era Lula e Dilma.
Tacla Duran de cara enganou os caras de Curitiba escondendo deles que sabia que aqueles e-mails chegavam num programa que fazia a mensagem desaparecer em poucas horas da telinha de seu celular. E se ele printasse ou fizesse download, o programa avisaria aos lavajatistas que interromperiam aquele modo de interlocução. Então o que fazia Tacla Duran? Ele pegava um outro celular, uma câmera fotográfica, e fotogravava a telinha com os e-mails de Zucolloto et caterva. Copiava as provas sem que os seus interlocutores soubessem que ele estava documentando antes que elas desaparecessem da telinha.
Tacla Duran investigou como os lavajatistas invadiram bancos de dados da Odebrecht. Descobriu quais bancos não foram invadidos, como aquele escondido na Suécia. E obteve provas de que os investigadores misturavam provas reais com provas forjadas por eles mesmos. E mais, que escondiam provas que iam a favor dos alvos de Moro e DD.
Os investigadores estavam com raiva de Tacla Duran e acharam que a fortuna dele seria de apenas 15 milhões de dólares angariados ao longo de uns dez anos e guardados em paraísos fiscais, notadamente Singapura. E avisaram que pegariam tudo se ele não colaborasse. Ele fingiu colaborar. E deu no que deu.
Moro, DD e aqueles paranaenses do TRF4 ainda chamam Tacla Duran de réu, de bandido, foragido, corrupto.
Espelho, Espelho meu! Existe alguém mais corrupto do que eles? Narciso achava feio o que não fosse espelho. Eles acham feio o que não for dinheiro.

Alfredo Herkenhoff é jornalista, escritor, autor do livro Jornal do Brasil – Memórias de um Secretário