Por Simão Zygband
Todos nós que votamos no Luiz Inácio Lula da Silva admiramos sua coragem de se dispor a enfrentar, como a nossa maior liderança, os mais complexos desafios que a história recente do Brasil tem nos imposto.
É muito claro para os mais de 60 milhões de eleitores que Lula representava naquele momento o melhor (e talvez o único nome) para derrotar os nazifascistas que a mentira, a armação e o golpismo colocaram no poder através dos mais diferentes ardis que envolveram muitos atores da classe política, do Judiciário, da mídia hegemônica e de beneficiários do sistema desigual.
Boa parte deles recapitulou, é verdade, e entendeu o perigo que seria empoderar por mais quatro anos o governo de extrema-direita e se uniu à chamada Frente Ampla. Ela reuniu em torno de Lula nada menos que 10 legendas partidárias diversas, que não mais conseguiam suportar os desmandos bolsonaristas.
O primeiro passo, há de se reconhecer, foi a vigorosa adesão do ex-governador Geraldo Alckmin como vice na chapa presidencial. Outros nomes como Marina Silva, Simone Tebet, José Luiz Penna, André Janones, Cristovam Buarque, entre outros, deram capilaridade ao bloco.
Lula e seus novos (e tradicionais) aliados cumpriram uma tarefa heróica e titânica. Foi literalmente a vitória de David contra o “gigante” Golias, o do “tostão” contra o “milhão”. Além de utilizar verbas do Orçamento Secreto, do derrame de recursos públicos liberados às vésperas das eleições através do Auxílio Brasil, regalos para taxistas e caminhoneiros, gastos milionários no cartão corporativo e a redução forçada nos preços dos combustíveis, com assalto ao ICMS dos estados (o que pode ter ocasionado um rombo de R$ 400 bilhões no Orçamento), o extremista recebeu mais de 88 milhões em doações privadas contra (pasmem) R$ 5,7 milhões de Luiz Inácio. Tudo isso engrandeceu a já maiúscula vitória do ex-presidente.
COP 27
Lula é, sem dúvida, a maior personalidade atual da América Latina e as circunstância em que impingiu uma retumbante derrota a seu adversário, depois de ter passado 580 dias em uma prisão arbitrária e ilegal, fruto da mais intensa perseguição política que se tem notícia no Brasil (digna de filme, tal a odisseia) já seria motivo para admira-lo ainda mais.
Entretanto, até o mais incauto observador político sabia desde o início que uma coisa era ganhar e a outra, garantir a posse e governar. Lula bem sabe disso. Aproveitou sua ida à COP 27 no Egito para se distanciar da ebulição política do país pós-eleitoral (sobretudo por que os derrotados não admitem a derrota) e juntamente com sua companheira Rosângela da Silva (Janja) pode colocar a cabeça no travesseiro e elaborar, como excelente estrategista que é, tão complexa tarefa de desenhar o futuro governo com um ministério que lhe seja fiel e ao mesmo tempo contemple tantos interesses de partidos tão diversos.
Lula logicamente ajudou Alckmin a construir o chamado Governo de Transição, a quem destinou a Coordenação Geral. São cinco Coordenadorias, um Conselho Político com 12 nomes e 28 Grupos Técnicos composto com os mais renomados nomes das diferentes áreas e de todos os espectros políticos que compuseram a Frente Ampla.
O presidente eleito garante que não necessariamente se tornará ministro aquele que participar desta etapa do processo. Mas, logicamente, está formulando em sua cabeça entre todos estes aqueles que formarão o seu futuro ministério, o núcleo duro de seu governo, esta sim a mais importante decisão.
Todos confiam plenamente na capacidade de Lula em escolher os melhores nomes, elaborar um desenho político equilibrado, com poucos ruídos, para gerir os destinos da nação nos próximos 4 anos.