Por Simão Zygband

Todo mundo sabe que o governo do Lula não vai ser mel na chupeta. Mais de 60 milhões de brasileiros acima dos 16 anos confiaram nele para tentar conseguir tirar o país do atoleiro que os 2 anos de Michel Temer e os 4 de Jair Bolsonaro deixaram.
Há problemas graves em todas as áreas. A principal delas, é verdade, e talvez a mais urgente, seja atenuar a fome de 33 milhões de brasileiros cuja herança maldita, a crueldade da extrema-direita bolsonarista, deixou sem poder realizar as três refeições diárias. São milhares de famílias que procuram comida nas latas de lixo, que dormem nas ruas ao relento ou que se amontoam para conseguir um osso no açougue para fazer uma sopa.
O indigente que ocupou o cargo presidencial em um mandato tóxico que se encerra no próximo dia 31 de dezembro, teve a pachorra de dizer que não havia fome no Brasil, enquanto ele e sua terceira esposa, Michelle Bolsonaro, torravam quase 2 milhões de reais por mês no cartão corporativo da presidência da República.
É difícil alguém com esta ganância por dinheiro enxergar a necessidade do próximo, ainda mais quando são exatamente aqueles que, supostamente, ele deveria cuidar.
Mas vamos olhar para a frente e esquecer o passado, sem se descuidar do retrovisor.
Entre as áreas problemáticas do governo Lula, que ainda está embrionário, com certeza está a da Segurança, que é um verdadeiro ninho de escorpiões, extremamente contaminada pelo bolsonarismo.
Um dos indicativos da dimensão dos problemas foi a indicação de Edmar Camata para chefiar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) – um cargo que se transformou em um gigante transtorno para a democracia no governo do extremista Bolsonaro -, e que foi agora colocada na cota do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB).
A nomeação do policial pelo futuro ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), gerou insatisfação na base militante petista, pelo apoio de Edmar Camata à Operação Lava Jato e à prisão ilegal do presidente Lula em 2018.
Segundo o jornalista Marcelo Auler, do portal 247, “ Flávio Dino avalia que não é motivo para defenestrar a indicação que ele fez ontem, com altos elogios profissionais ao policial rodoviário federal, que hoje é Secretário de Transparência do Governo do Espírito Santo, do Casagrande, lembrando que aliados do governo eleito, como Randolfe Rodrigues (Rede) e Alessandro Molon (PSB), também apoiaram a Lava Jato no passado”.
Até o vice, Geraldo Alckmin, também foi apoiador da Lava Jato e defendeu a prisão de Lula, assim como a senadora Simone Tebet, a então senadora Marta Suplicy e até mesmo a deputada federal eleita, Marina Silva. Mas, uma coisa é a área parlamentar e política e outra, completamente diferente, é ter cargo de confiança na PF ou PRF, fundamentais para o combate à criminalidade.
Seja qual for a decisão, pela manutenção ou não de Edmar Camata, é momento de dar carta branca ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas não é uma boa ideia colocar em cargos chaves policiais que tenham algum histórico de defesa da prisão do presidente eleito. Nesta área é absolutamente necessária a colocação de quadros leais ao presidente da República. Todos sabem que a PF e a PRF são um rastilho de pólvora, assim como é a área militar.
Confesso que temo por nomeações não muito afinadas com o governo Lula.
Mas ele saberá como resolver este imbróglio.