Apoio a Bolsonaro custou caro para a TV do bispo Edir Macedo

Por Simão Zygband

A Rede Record, do bispo Edir Macedo, paga caro pela fidelidade canina ao projeto da extrema direita do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nesta segunda-feira (17) anunciou a demissão em massa de cerca de 200 funcionários, do jornalismo e áreas técnicas, para tentar estancar um prejuízo de R$ 517 milhões, um recorde histórico, fruto do equívoco de apoiar unilateralmente, sem direito ao contraditório, um governo que arrebentou o país e levou milhões de brasileiros à fome e ao desemprego.

A política econômica do governo derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, não conseguiu apoio nem mesmo entre os evangélicos, forte do eleitorado bolsonarista, o que impactou diretamente a  audiência da TV do bispo. Prejudicados pela crise financeira e também possuindo vários membros das famílias crentes vitimadas pela Covid-19, o discurso da direita não conseguiu aplacar a todos os fiéis. Praticamente metade deles, sobretudo os mais pobres, acabaram optando pelo voto no petista.

” O bilionário Edir Macedo colocou até a Igreja Universal na campanha eleitoral de Bolsonaro e hoje coloca o jornalismo da emissora para engraxar as botinas do ex-capitão. A Record é hoje a emissora que mais recebe verbas do governo. O crescimento do faturamento publicitário da Record junto à Secom no primeiro trimestre de 2019 foi de 659%, valor já considerando a variação da inflação no período. O fato da emissora do bispo ter se tornado praticamente a casa oficial da extrema direita brasileira na TV não chega a surpreender”, relatou na época reportagem do The Intercept Brasil.

Quem não se lembra da fraude eleitoral realizada pela TV Record na campanha eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro, que se recusou a participar do último debate na TV Globo, supostamente por não possuir condições físicas por causa da facada (fakeada, para alguns), proporcionou sozinho, às vésperas das eleições, uma longa entrevista no noticiário da TV de Edir Macedo. Estava configurado ali um dos crimes eleitorais, que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relevou na época.

Agora, como fez o SBT, Macedo tenta uma reaproximação com o governo Lula, atrás de não perder o apoio milionário que lhe proporcionou Bolsonaro, mas que foi insuficiente para cobrir despesas e a queda na audiência, suficientes para que os anunciantes desaparecessem. Difícil colar uma marca com o governo intolerante da extrema direita.

Lógico que, para variar, a corda estourou no lado mais fraco e a emissora realizou forte demissão no Departamento de Jornalismo.  Foram dispensados Patrícia Costa, ex-apresentadora do Domingo Espetacular, e o repórter Sylvestre Serrano além do diretor de Apoio Operacional do Jornalismo, Luiz Cardamone, o Canário, o diretor de Conteúdo OTT (PlayPlus), Josmar Bueno Júnior, e o coordenador do núcleo de Esportes, Georgios Theodorakopoulos, o Grego.

Apesar de ser muito difícil, o governo Lula não deveria socorrer as emissoras golpistas. Precisa democratizar as verbas publicitárias do governo e investir mais na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) ou na TV dos Trabalhadores (TVT) para criar um contraponto ao discurso da mídia hegemônica. Não é um processo fácil. Mas é necessário democratizar a Comunicação no país.