Alto, forte e… broxa; toda vaidade será castigada*

Por Luis Otavio Barreto

Até agora não sei onde estou; há pouco fui abordado em frente ao Banco do Brasil. Um rapaz baixo me fez festa e largou um: – Lembra de mim mais não? Em minha defesa preciso dizer que sou péssimo fisionomista, portanto, não lembrava. Além disso, estava com meus imprescindíveis fones de ouvido. (Cabe aqui um conselho: não saiam sem. Sobretudo, se utilizarem trem, metrô ou Uber). De agora em diante começa a queda de um homem de quase 2 metros;

– Lembra de mim mais não, né?

… (eu quieto, assustado e confuso)

– Da academia. Você tá fortão!

… (na minha cabeça, a vaidade começa a gritar)

– Tô com um negócio aqui pra você.

…(gente, mas eu engordei, será que tô forte assim?! ainda vaidoso)

De súbito, o homem agarra minha mão e passa um sebo que dizia ser pomada de SUCUPIRA. (na minha ignorância, Sucupira era aquela do Odorico Paraguassú.) Eu fiquei tonto com o vai e vem, com o Pink Lloyd no fone, com aquele homem me passando o sebo e com sua falação e com minha vaidade e com “quem é esse cara?” e com a culpa de tê-lo, de fato, esquecido em algum lugar do passado, junto com minha boa forma e meus brações…

– Ó, tô te dando, presente de amigo. Mas se você puder deixar uma ajuda…

… (será que eu conheço essa porra?! Putz, sabia que ia pedir dinheiro. Diabo! Logo hoje tenho algum no bolso. Enfiei a mão na esperança de arrancar 2 reais. Veio 10. Puta que pariu! Todo dia com cartão e hoje veio dinheiro.)

DE FORTÃO, MUSCULOSO E AMIGO DE ACADEMIA A UM ALTÃO BROXA É UM PULO

– Rapaz, tenho um negócio pra te ajudar na hora do namoro.

… (quieto, tonto e pensando: – que porra é essa?!)

– Esfrega! Sente! Isso aí você passa na … do … e tu vai ver estrelas…sua namorada vai mandar você comprar mais…o p..vai na testa.

… estalou! esse cara me conhece porra nenhuma! reage, seu besta! sai daí… SHINE ON YOU CRAZY, DIAMOND estourando no fone…

– Ó, usa camisinha hein?

Segui em direção ao que ia fazer, com uma sacolinha com a latinha de pomada de sucupira e uma cápsula com um líquido oleoso, amarelado.

Ainda estou tonto e meio besta com minha burrice e com a perda de 10 reais…

Fico pensando nas risadas que o cara não deu as minhas custas.

Cheguei em casa, arranquei a roupa fui em frente ao espelho e pensei: fortão de academia?! Depois falei, pra ouvir, em tom de pergunta o que havia dito só em pensamento.

Liguei o chuveiro rindo da minha vaidade patética e um tanto saudosista daquele eu fortão…

Nelson, que dificilmente me abandona, disse com sua voz grave e abafada, e eu ouvi:Toda vaidade será castigada!

 

*P.S.: agradeço a Nelson o empréstimo e a liberdade de adaptação à minha conveniência, para “Toda Nudez Será Castigada.”

 

Luis Otavio Barroso é músico pianista e professor de Língua Portuguesa.

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