Por Vanessa Berner
Em setembro de 2021 eu estava em uma aula on-line com alunos da pós-graduação quando, de repente, fiquei desnorteada, sem saber o que estava fazendo. Olhava pra tela do computador e não reconhecia as pessoas. Meu marido passou por mim, viu que algo estava errado, pediu pra encerrar o encontro e me levou pro hospital. Fisicamente eu estava bem: pressão, temperatura, sinais vitais… mas na verdade eu estava péssima. Fui encaminha para um neurologista que não viu nada de errado e me disse para consultar um psiquiatra. Fui diagnosticada com a “síndrome de burnout”, o que resultou em uma licença médica que durou nove meses. E é sobre isto que quero falar.
No site do Ministério da Saúde a doença é conceituada como “um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho”. Bombeiros, policiais, professores, bancários, médicos e enfermeiros são os profissionais mais afetados pela síndrome.
Retorno este mês à universidade – ainda medicada, na psicoterapia, ainda instável e um tanto insegura – e resolvi falar sobre este assunto porque, pela primeira vez, senti na pele o preconceito e o mau juízo que as pessoas (inclusive alguns médicos que não são psiquiatras) fazem sobre quem está com este tipo de transtorno.
Para que se tenha uma ideia, o retorno gradual recomendado por minha médica não é uma possibilidade considerada pela instituição. As pessoas te olham como se você estivesse forjando uma desculpa para não trabalhar. A média de tempo para que você se recupere é de três anos, mas como você está aparentemente saudável, te olham e dizem: “você está apta”. Não estou, mas retorno agora: pesquisa, extensão e ensino, além dos encargos administrativos, claro!
Gostaria de ser a mesma professora que durante 32 se dedicou exclusivamente à universidade pública. Mas jamais serei igual outra vez.
Durante todo este período venho fazendo um doloroso balanço da minha vida. Descobri coisas boas e outras nem tanto sobre mim, sobre as pessoas à minha volta, sobre o amor, o cuidado, as amizades e, obviamente, o trabalho.
Agradeço o afeto com que tantas pessoas me acolheram e me ajudaram, seguraram a minha mão: colegas de trabalho, familiares e amigos. Ainda não estou curada, mas aprendi, duramente, o valor das pequenas coisas, a força do nosso desejo de seguir em frente, a importância de distinguir o que vale do que não vale a pena.
Precisamos desmistificar o trabalho, ele não é nossa vida e, na verdade, ninguém se importa tanto com o que você faz…
Cuidem-se muito, façam pausas, não levem tão a sério o que é apenas uma parte da sua vida. O mundo se abre quando você olha pra dentro de si e compreende que você é seu melhor amigo, seu melhor guia e conselheiro. E, sobretudo, levem isto a sério: “ a vida não cabe no Lattes”.
Vanessa (Berner) Batista é professora titular de Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)