Construir Resistência
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A tragédia no estado da intolerância

Por Simão Zygband

Não gostaria aqui externar um preconceito, mas apenas uma constatação. Ouvi mais de uma vez, da boca dos bolsonaristas, inclusive do Luciano Hang, o Véio da Havan, que Santa Catarina era um dos estados que mais cresciam no país,  que possuía uma das menores taxas de desemprego e o maior número de empregados registrados, por que nunca foi governada pelo PT e que o partido do presidente Lula tem pouco espaço político naquele estado do Sul. Esta falácia foi diversas vezes verbalizada também pelo ex-governador Carlos Moisés (Republicanos) e por muitos da mídia conservadora.

Os catarinenses (não dá para generalizar) gostam de comparar Santa Catarina, onde Bolsonaro teve 69,67% no segundo turno das eleições presidenciais, elegeu Jorginho Mello como governador e Jorge Self como senador, todos do PL (o mesmo partido do genocida), com os índices de desemprego, carteira assinada e crescimento, do Nordeste, simpáticos ao presidente Lula. Eles aparentam ter orgulho desta orientação política, onde “a esquerda não tem vez”.

Esta opção política, por gostar de políticos fascistas e de extrema-direita, apresenta um custo muito alto para os catarinenses, que se acostumaram a aceitar posturas extremadas e truculentas de seus representantes, daqueles que gostam de resolver tudo na base da violência, da intolerância e da truculência.

Santa Catarina volta ao noticiário novamente não por suas atribuições positivas (que de fato são reais), como ter lindas praias, IDH elevado, bom crescimento econômico, menor desemprego do país e sim por questões que muito tem a ver com este gosto pelo fascismo, por ter admiração por genocidas como Jair Bolsonaro, por aceitar a cultura da morte.

O país amanheceu estarrecido com uma chacina de crianças em Santa Catarina. Um desequilibrado bolsonarista, portando uma machadinha, invadiu uma creche em Blumenau, matou quatro crianças e feriu outras cinco. Elas tinham entre 4 e 7 anos de idade. O assassino, Luiz de Lima, publicou uma mensagem enigmática em suas redes sociais: “Policial Fábio Matos que comandou o ataque, resistência manda um salve”, afirmou Luiz de Lima em publicação no Facebook. Ele, em suas postagens mais recentes, postou um vídeo com um trecho do filme “300 de Esparta”, além de uma publicação evidenciando a situação financeira de pobreza da Venezuela.

O presidente Lula se pronunciou e considerou o episódio como “uma monstruosidade”. É algo que poderia ter acontecido em qualquer outro estado brasileiro? Claro que sim. Vários episódios semelhantes já aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Todos, é verdade, com as mesmas características: jovens, algumas vezes vestidos com roupas neonazistas, surtam e saem matando, sobretudo em ambiente escolar.

Mas Santa Catarina vem ganhando o noticiário exatamente também por se transformar no estado mais fascista do país, onde as contradições inerentes ao sistema capitalista afloram com mais intensidade. A pesquisadora Adriana Dias, recentemente falecida, identificou 300 células neonazistas espalhadas pelo país, a maior parte delas no estado sulista. Foi ali que oito jovens foram presos em um encontro neonazista que estava sendo realizado em um sítio na cidade de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis. Eles permanecem detidos não só por participarem de encontro proibido, mas também por ataques a judeus, negros e homossexuais.

Também foi lá que cinco parlamentares catarinenses de esquerda sofreram ameaças de morte por prestarem solidariedade à vereadora Maria Teresa Capra, do PT de São Miguel do Oeste, cassada por ter denunciado bolsonaristas que fizeram saudações nazistas durante eventos antidemocráticos ocorridos naquela cidade após a derrota do genocida Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, ele mesmo um nazista, foi o grande incentivador do neofascismo no país. Em seu (des)governo proliferaram os cidadãos portando armas, muitas delas pesadas, explodiram os índices de trabalho escravo, se sucederam ataques a escolas e creches pela juventude incentivada por ideias fascistas, que seguem a lógica do ex-presidente: “Sou capitão do Exército. A minha especialidade é matar”.

Estão aí os resultados.

 

Bolsonaristas fazem saudação nazista em Santa Catarina
Neonazistas presos em São Pedro de Alcântara
Da esquerda para a direita as vereadoras Carla Ayres (PT), a vereadora cassada, Maria Tereza Capra (PT), pivô da onda de ataques, a deputada estadual Luciane Carminatti (PT) e a vereadora Giovanna Mondardo (PCdoB).

 

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