O bolsonarismo está conseguindo aliados importantes inclusive entre pesquisadores da violência e do ódio.
Veja o que diz em entrevista à Folha a professora de Direito Clarissa Piterman Gross, da Fundação Getúlio Vargas, que pesquisa discurso do ódio, sobre a afirmação de Bolsonaro de que é preciso fuzilar os petralhas:
“Há razões para entender que a fala não foi literal. É uma fala grosseira, tosca, ignorante. É triste que tenhamos como presidente uma pessoa que se coloque no debate político de forma tão ríspida e violenta. Mas não me parece que naquele contexto o presidente estava afirmando que os militantes do PT não deveriam ter direitos protegidos de forma igualitária. Assim, não me parece que, naquele contexto, o discurso configura discurso de ódio.
Também não me parece que, naquele contexto, o discurso significava incitação ao crime justamente porque o sentido não era o de defender a prática de crimes contra militantes do PT. Isso não significa que, em um outro cenário social e político, em outro contexto, uma frase como essa não poderia significar incitação ao crime”.
A professora deveria conversar com a viúva de Marcelo Arruda, o guarda assassinado por um fascista que decidiu fuzilar seu inimigo petralha em Foz do Iguaçu.
O mesmo raciocínio da pesquisadora valeria para ameaças, como a feita pelo deputado Daniel Silveira, de eliminação de ministros do Supremo.
Ivan Rejane Fonte Boa Pinto, o sujeito que ameaçou de morte Lula e ministros do STF, e que está preso, deveria ser solto?
O Brasil poderia ter uma produção em escala geométrica de vídeos ameaçadores, como o que esse cara fez, sem que nada acontecesse? Ou esse cara deve estar preso por ser chinelão?
A pesquisadora da FGV, claramente uma pensadora ultraliberal, que considera que tudo é permitido, está fazendo um bom serviço para a extrema direita.
A professora chama a pregação da violência pelo uso das armas, feita por Bolsonaro, de “circulação da tese abstrata de defesa do armamentismo”.
A entrevista é abstrata, é cheia de firulas hermenêuticas e escapistas, como no trecho em que ela não vê nos ataques de Bolsonaro uma afirmação de que “os militantes do PT não deveriam ter direitos protegidos de forma igualitária”.
Resumindo: Bolsonaro diz mas não diz que é para metralhar petralhas. Trata-se de controvérsia sobre tratamento igualitário.
Mas os fascistas entendem mal e saem metralhando. Como metralharam Marielle e Marcelo Arruda.
Com liberais dessa estirpe, nem precisamos de conservadores.
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O debate sobre a dificuldade para enquadrar como crime o discurso do ódio, tem da entrevista, é diversionista. Porque o que o genocida está incentivando é a violência, é mais do que ódio.
Ódio é o que sinto pelo meu vizinho fascista. Bolsonaro está mandando matar, e não só odiar, os inimigos. É um debate bobinho para a vaidade de professores e advogados.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre (RS). É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim). Foi colunista e editor especial de Zero Hora