Construir Resistência
Foto: Arquivo Pessoal

A repetição na história

Por Ângela Bueno

“Ao cantar na escuridão o andarilho nega seu medo, mas nem por isso enxerga mais claro” (Freud – 1926)

Também canto para espantar o medo. Medo da morte pela #Covid-19, medo de uma ditadura,
#ditaduranuncamais!, medo da censura, medo da perda de direitos sociais, medo de assistir às
instituições brasileiras se dissolvendo. São tantos os medos que não dá para enumerá-los, sob a pena
de esquecer de alguns. Mas, diferente do andarilho, busco ler, estudar e escrever para enxergar mais
claro

E o que venho enxergando quero partilhar com vocês.

E a História se repete…

Fiz alguns breves recortes em um texto de Freud de 1915, Considerações atuais sobre a guerra
e a morte. Nesse texto o autor traça um retrato que, colocado em uma moldura nova pode contribuir
com as muitas reflexões sobre esses tempos sombrios que estamos vivendo no Estado Brasileiro desde
2016, com o golpe parlamentar-jurídico-midiático sofrido pela Presidenta #DilmaRoussef.

Vamos conferir o que Freud nos diz sobre o Estado, o Governo e seu povo.

Os povos, diz o autor, são mais ou menos representados pelo Estado e pelo Governo que os
conduzem. Em tempos de guerra, o cidadão costuma ficar horrorizado ao constatar que o Estado proíbe ao indivíduo a prática da injustiça, não porque deseja acabar com ela, mas para monopolizá-la.

Esse retrato cabe aqui?

Você pode argumentar que não estamos em guerra. E que, portanto, essa descrição não nos representa. Me permita dizer, caro leitor, que o número de mortos que temos pela #pandemia da #Covid-19 no Brasil já ultrapassa em muito o número de mortos de várias guerras. E que o Governo Brasileiro, não só desmontou o Ministério da Saúde, como criou o denominado “Ministério paralelo” contra a vacina.

Mas, e a questão da injustiça? Essa #pandemia mostra uma desigualdade social crescente, assustadora taxa de desemprego e o governo rindo e debochando não só dos que morreram como dos que precisam do auxilio emergencial, dentre tantas aberrações a que temos assistido.

Freud segue dizendo que o Estado beligerante, ao entrar em uma guerra, se permite a qualquer
injustiça, qualquer violência para desonrar o indivíduo que considera seu inimigo. Contra o inimigo, ele utiliza a astúcia autorizada, a mentira consciente e o engano intencional.

Ah, a mentira consciente. Hoje chamada de #fakenews, que é uma violência espalhada pelo
chamado #Gabinetedoódio, que existe nas barbas do governo, com a autorização deste, para
desonrar, denegrir a imagem de pessoas, instituições de todo e qualquer cidadão que pense diferente
dele e que faça alguma crítica ao seu governo.

Mas não estamos em guerra, você poderia argumentar. Eu só interrogaria se estamos vivendo tempos de paz porque o governo utiliza técnicas de guerra contra o povo, para o qual foi eleito para governar e proteger.

O Estado Brasileiro está em guerra, caro leitor, contra a população que pensa diferente, que
expressa o contraditório, contra a população pobre que precisa do auxílio emergencial, contra os que
perderam seus familiares pela #Covid-19, contra os jovens negros e pobres… São tantas guerras que não cabe a mim enumerá-las.

Não é uma guerra o que aconteceu na chacina recente na favela do Jacarezinho, no RJ? Não é uma guerra a abordagem policial feita ao cidadão Felipe Ferreira, em GO? Esse tipo de abordagem é, aliás, corriqueira no Brasil na relação da polícia com a população jovem, negra, moradora dos bairros populares.

Outro segmento da população brasileira que o governo e sua máquina de mentiras tenta, a todo
custo, desmoralizar, desonrar, são os funcionários públicos de maneira geral, e os professores e
pesquisadores da universidades públicas federais e estaduais, assim como os institutos de pesquisa. Tudo com o único e exclusivo intuito de privatizar todo o bem público.

Não é isso o que foi feito com a Petrobrás? Primeiro desmoraliza, depois, fatia e vende no mercado a preço de banana.

Freud continua dizendo que o Estado beligerante se desliga de todos os tratados e garantias
mediante os quais se comprometera com os outros Estados, admitindo, sem nenhuma vergonha, sua
cobiça e seu afã de poder, que o indivíduo deve aprovar por patriotismo. Não é isso que o Estado Brasileiro faz?  Desrespeita tratados sobre o meio-ambiente, desrespeita as recomendações da #OMS (Organização Mundial da Saúde) no que diz respeito ao isolamento social, uso de máscaras e vacina para o enfrentamento da #pandemia da #Covid-19?

Mente, descaradamente, em sua participação em reuniões de organismos internacionais. Frente ao empobrecimento da população, assistimos estarrecidos à compra milionária de uma mansão do filho do presidente, fruto das #rachadinhas. E quem pergunta ao Queiroz sobre o depósito de vultuosa quantia na conta da primeira dama é considerado inimigo do Brasil e não é patriota.

E volto a Freud que diz que quando o Estado usa a injustiça, não segue normas morais, nem
renuncia ao exercício brutal do poder, mas exige que o cidadão comum o faça, não é surpresa que ocorra um afrouxamento das relações morais entre os considerados “grandes indivíduos” com repercussão na moralidade de cada cidadão. Isso porque o Estado e suas instituições deveriam ser o guardião das normas éticas e morais de seu país.

De acordo com Freud duas coisas nessa guerra provocaram nossa decepção:

– a pouca moralidade demonstrada pelo Estado em suas relações externas e internas;

– E a brutalidade do comportamento de indivíduos que não acreditávamos serem capazes de atos
semelhantes.

Não é sem razão que existe o ditado:

“Um rei mau, torna má a sua gente.” A cota de agressividade existente e recalcada em cada cidadão parece ser autorizada a “sair do armário”, aonde vivia confinada pelo recalque.

Para finalizar cito Mia Couto que disse:

“Triste o país, que ao invés de produzir riquezas, produz ricos.”

E cito um caso, contato pela atriz Denise Fraga, que viralizou nas redes sociais.

Uma pessoa simples lhe relatou, aos prantos, que perdera um irmão pela #Covid-19 porque seu irmão tinha baixa impunidade. Denise encerra dizendo que, de fato, o irmão da moça morreu de alta impunidade, altíssima!

Triste Brasil, tristes tempos!

Mas como cantou Gonzaguinha:

“Cantar, nunca foi só de alegria, com tempo ruim, todo mundo também dá bom dia..”

#EuAcreditonoSUS

#FORABOLSONARO!

Ângela F.V.Bueno é psicanalista e ceramista. Nas décadas de 70- 80 trabalhou na Caritas Arquidiocesana de Vitória. Trabalhou também na Secretaria de Estado da Saúde- ES, contribuindo para a implantação do SUS em seu estado. É professora aposentada do departamento de Serviço Social da UFES. É mestre em Teoria e Clínica Psicanalista pela UERJ.

 

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