A Pasárgada de Bolsonaro

Por Sonia Castro Lopes

Assim como na canção da Legião Urbana, os brasileiros, incrédulos diante do discurso do Presidente na ONU, devem ter perguntado: Que país é esse? Infelizmente, estamos sendo internacionalmente reconhecidos como um país de mentiras, cascatas e sandices, um país inventado pelo ser criminoso, incompetente e cafona que ocupa o palácio do Planalto, cargo para o qual foi eleito por mais de 50 milhões de cidadãos tão toscos quanto ele.

Antigos eleitores decepcionados com o “mito” agora vêm demonstrando seu apreço aos princípios democráticos. Pesquisa feita pelo Datafolha revelou que 70% dos entrevistados entre os dias 13 e 15 deste mês afirmaram que “a democracia é o melhor regime de governo para o país”, ao contrário de 2018 quando o apoio do povo  à democracia andava na casa dos 56%. Um pouco tarde para reconhecer, não?

Em seu discurso, Bolsonaro falou diretamente ao seu público: o gado do cercadinho,  representantes do agronegócio e evangélicos. Sem um pingo de constrangimento e para o espanto de outros chefes de Estado, confessou não estar vacinado. Radicalizou ao defender o tratamento precoce e o uso da cloroquina afirmando que “a história e a ciência saberão responsabilizar a todos.” A foto tirada ontem com sua comitiva comendo pizza na calçada para demonstrar que é “gente como a gente” foi um recibo de vulgaridade. Popularesco e ridículo ainda almoçou seu indefectível churrasco ao ar livre, num espaço gourmet-cafona especialmente criado pela Churrascaria Fogo de Chão para ele e seus asseclas.

Inigualável em suas falsas declarações, o presidente ocultou a investigação da CPI, as rachadinhas e teve a coragem de dizer que em seu governo não há casos de corrupção. Afirmou que salvou o Brasil do socialismo, na tentativa de atrair os investimentos cada vez mais escassos desde o ano passado. O país dos desmatamentos criminosos, da crise sanitária e econômica, dos milhões de desempregados e miseráveis transformou-se numa verdadeira Pasárgada aos olhos dos bolsonaristas de plantão. Não faltaram alusões à multidão de apoiadores que conseguiu reunir na ‘festa cívica’ do 7 de setembro, embora se saiba que grande parte prestou-se a ser massa de manobra  naquele cenário de mentiras.

Se as redes bolsonaristas estão exultantes com a participação do presidente na Conferência da ONU, a grande maioria não consegue esconder a vergonha de ser representada por essa criatura inominável. A imprensa internacional não se deixou intimidar com as mentiras propagadas pelo capitão que foi taxado de controverso e provocador (New York Times), desrespeitador do ‘código de honra’ da vacinação das Nações Unidas (Washington Post) e que tentou apresentar um país muito diferente daquele devastado pela epidemia e pelos incêndios na Amazônia (Rede CNN).

Sua intenção era fazer um discurso em braille, ou seja, falar para os cegos que não conseguem enxergar aquele Brasil que não é mostrado nos jornais ou emissoras de televisão, um Brasil que a imprensa sabota e apenas ele e seus correligionários acreditam existir. Que país é esse?

 

Foto: Discurso de Bolsonaro na ONU. Meme que circula na internet.

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