A neve que cai…

Por Sebastião Nicomedes

Ver o #governador de #SãoPaulo distribuindo sacos de dormir. Olhar o metrô sendo transformado em abrigo emergencial. Presenciar a #prefeitura erguendo mini tenda nas praças.

Ah, mas não eram vocês que pediam que o Estado e a sociedade se mobilizarem?  Não foram os ativistas? A militância? Os movimentos sociais ?

Tá é pra pirar? Ou parar?

E, lá em Brasília, abordagem da #poprua ao estilo ‘choque de ordem”.

Incontestável, apenas o padre #JúlioRenatoLancelotti. Meu amigo e tanto! Mas, não é confuso, reverendo? A gente tendo que recorrer ao paliativo como se fora padrão de excelência?

Sim, a #pandemia dificultou os trabalhos dos conselhos e reuniões dos fóruns e plenárias. Essa #Covid-19 escancarou de vez . Se antes haviam cidades invisíveis, hoje temos um Brasil inteiro.

A segunda cidade. Um segundo país.  Da miséria e dos miseráveis.

As tendas e contendas

Gratidão às pessoas de bom coração, que se juntam. Arrecadam.  Doam e se doam.

Agasalhos. Cobertores. Sopas quentes.

”Pão a quem tem fome. Água a quem tem sede”.

#temgentecomfomedaidecomer.

Mas, gente: o que foi essa noite? O que serão esses dias? O que está sendo feito das politicas publicas e sociais?

Não, #Doria, a #cracolândia não acabou.  Cresceu e se espalhou.

Alguma coisa acontece, não somente quando se cruza a Ipiranga e Avenida São João.  Escancarou geral!

O que é a #PraçadaSé, hoje?  Aliás, as praças?

Perderam o verde das gramas e das árvores. Ganharam o cinza do cimento e o azul das barracas de campings.

Tanto de gente que contestou a #SoninhaFrancine ante à proposta de acampamento social, mas e o que a cidade virou?

De verdade: barraca virou luxo. Privilegiado quem tem a sua.

Porque no chão é só corpos de gente jogada ao relento. As ruas lotadas contrastam com prédios abandonados e hotéis vazios.

Corre lá, #Suplicy, corneta o presidente Bolsonaro. Buzina na orelha do ministro Paulo Guedes: #RendaBásicadeCidadania. #AuxilioEmergencial permanente. Que, tão cedo, o segundo Brasil não vai se reerguer!

Há fome nos lares, nas periferias. Tão cedo os cidadãos não se levantam dos calçadões.

Toca juntar capas de guarda chuvas para serem transformados em sacos  de dormir. Brinquedos para as crianças órfãs da #pandemia. Emprego para os pais e mães, que as famílias sem casa, hoje, clamam por #moradiaprimeiro.

O mais triste é  saber que apesar de todos esforços ainda encontramos pessoas isoladas. Dormindo no cimento. Sem nenhuma manta para enfrentar o frio. Dói saber que além do #coronavirus, muitos vão morrer de hipotermia.

Gratidão á #CruzVermelhadoBrasil. À #DefesaCivil. Aos trabalhadores da ponta: Assistência Social, Saúde e Direitos Humanos.  Aos padres, pastores, missionarias. Aos munícipes que foram solidários.

Perdão pela melancolia desse texto.

É que tá  o negócio  “tá osso.”

Bora enxugar gelo.

 

Pessoas em situação de rua chegam à Catedral da Sé, SP, 19h30

Parque Dom Pedro, acampamento emergencial, noite de quarta-feira, 28, SP

Tião Nicomedes
Sebastião Nicomedes de Oliveira é “poeta das ruas”. Autor da peça teatral Diário de um Carroceiro e do livro As Marvadas é artista popular. Ex-catador e ex-morador em situação de rua, integra o MIPR (Movimento Internacional de População em Situação de Rua).

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