A mula de Balão

Por Sebastião Nicomedes

Inspirado no Salmo 55

Diria que estamos na terceira onda. A terceira onda do movimento pentecostal.

Falando das cruzadas evangélicas: a saga dos crentes Brasil afora levando aos grandes e pequenos municípios suas caravanas.

Igual ao período das eleições, as caravanas faziam a festa da criançada. Corríamos pelo pasto, pela estrada de terra, atrás dos carros de alto falante e os aviões  Teco-Teco, embaixo das chuvas de panfletos.

E os anúncios:

Grande Comício!

Grande concentração de curas e milagres com o reverendo tal.

Crente era visto como ser de outro planeta. Andavam com a Bíblia debaixo do braço. Os mais acanhados escondiam nas bolsas, em maletas, pastas de couro.

Espanta capeta! Certo que viviam camuflados…

De repente, dispara o  mercado da #músicagospel. A coisa muda de figura. De crentes à cristãos evangélicos.

A igreja renovando seu público, jovens levitas em grupos de evangelização, sonhando com o sucesso  de tocar nas  rádios, cantar na TV. Passam a exibir, a bíblia como troféu.

Para os mais fervorosos, calhou que junto da emancipação das igrejas evangélicas em seus desdobramentos e denominações.  E a força da igreja católica, um diferencial: se na igreja católica não temos padres mulheres celebrando misso, nas igrejas evangélicas há pastoras celebrando cultos.

Sobre as cruzadas, vieram de Roma. Eram cruzadas militares.

No Brasil, a transição foi na política.  Saímos da ditadura, do regime militarista para o regime democrático. 1983: era das #DiretasJá. Olha só. que benção!?

O povo brasileiro pôde ir às urnas, escolher o seu Presidente da República.

Ah, mas aí é que tá.   Os missionários.   Reverendos. Aqueles pastores que tinham a fama de  ministros de grandes curas e milagres vão despertando em si próprio, em  suas ovelhas, interesses pela política, a pregação do evangelho da salvação.

Vão mudando  para  prosperidade.  As cruzadas, o movimento de  avivamento na busca  por nomes para compor as bancadas estadual federal. Principalmente o cargo maior, o de  chefe da nação.

E, sob o lema: o Brasil é do Senhor Jesus Cristo. Oram por um ungido, um homem, uma mulher de Deus.

Em 1985 elegeu-se, por voto indireto, Tancredo Neves. Nem chegou a tomar posse. Faleceu antes. Assumiu o seu vice, José Sarney.

Entre 1990 e 2016  foram  cinco  presidentes da República, eleitos pelo voto direto, sendo 4 homens: Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva.  Finalmente, uma mulher: Dilma Rousseff.

Renúncias. Impeachment. Prisões. No caso da presidenta,  foi golpe ou não foi golpe?

Na expressão popular, a definição da política brasileira, incluindo parlamentares: é o cão chupando manga.

Mas, só em 2018 que os sonhos  dos pentecostais desabrocham, depois que o deputado Jair Messias Bolsonaro se declara terrivelmente evangélico e se lança candidato à presidência. Um capitão do exército, de nome Messias,  ser o sétimo eleito. O número da perfeição e a confusão está armada.

O momento era mais do que propício. Perfeito para lideranças das mais  influentes denominações, que se unem em torno e se fortalecem indiscriminadamente.

Reza a lenda que fé, política e religião não se misturam. Tragédias à parte, caiu como um feitiço.

Aos dos anos de governo,  em 2020, a chegada de um  inimigo mortal. Dos piores que o mundo já enfrentou, lançando sobre planeta a # pandemia da #Covid-19.

Semelhante à praga do Egito, dos tempos de Moisés e do faraó. O #coronavírus dizimando a humanidade.

Como o rei Davi tinha um conselheiro, Aitofel, amigo urso por sinal, o presidente Bolsonaro tem o seu conselheiro em tempos de crise: o pastor Silas  Malafaia.

Com o perdão da comparação, deu no que deu.  Estamos em 2021, em meio a uma CPI, em plena pandemia. Terrível.

E, pasmem, a corrida presidencial já começou a fervilhar. Esqueceram até do vírus, objetivo  principal que deveria  ser, o  fim da #pandemia.

A vacinação em massa foi  trocada por vacilação em massa! Eleitores estão morrendo aos milhares e, se tudo der muito errado ou não, muito certo.?

Ah, se nenhum dos políticos favoritos ao cargo vier a  morrer de #Covid-19 daqui pra  2022? Algum vidente arrisca a dizer que fim vai ter essa  parte da história do Brasil? Alguém com dons de revelação?

Cabe  a mim e a você, que está lendo, pedir misericórdia, Senhor.

Sara a nossa terra.

Nota do Autor:

Para mim, Davi e Aitofel são como os partidos e políticos mandatários. Amizade, lealdade e traição. Disputas de poder. Por parte do filho de Davi e a corrupção por trás de toda a trama. E aborda depressão (em seus dois sentidos).
Tião Nicomedes
Charge: helodangeloarte

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