A mão de Deus

Por Sérgio Arruda

Um filme do tipo que me agrada e me empolga é este “A mão de Deus” (2021), de Paolo Sorrentino. Trata-se de um filme de formação, no qual é narrada a trajetória de amadurecimento físico, moral, psíquico, estético e social de um adolescente. Fabietto Schisa é esse jovem, vivido pelo ator Filippo Scotti, que, após uma tragédia familiar, repensa seus planos futuros e decide tornar-se diretor de cinema.

A narrativa se desenvolve em sequência de episódios emblemáticos e familiares como a sugerir o que vai alimentar as suas memórias futuras de cineasta. Os tipos exóticos vivendo na Nápoles dos anos 80 em tudo fazem referência ao cinema de Fellini, a quem o diretor Paolo Sorrentino presta mais um tributo, uma vez que ele já tinha feito isso em “A grande beleza”, de 2013. Sorrentino, que nasceu em 1970 e já é um diretor agraciado com prêmios e menções em importantes festivais, faz do seu Fabietto um alterego seu, com inúmeras referências ao cinema.

Um dos personagens é o cineasta Antonio Capuano, que estimula Fabietto a seguir carreira, num diálogo perturbado e impressionante sobre o cinema como criação. O interessante é que Capuano realmente existe, mas só estrearia como diretor cinco anos depois do tempo da ação do filme, que é 1986. O futebol entra no filme com uma referência ao famoso gol que Maradona fez de mão em jogo classificatório contra a Inglaterra na Copa daquele ano. Mas a mão de Deus fica mesmo relacionada como metáfora ao acaso que teria salvo a vida de Fabietto.  Deu-me uma puta saudade do cinema de Fellini, responsável pela minha formação de cinéfilo desde os anos 70. Os jovens deviam ver este filme! (Netflix, of course!).

 

Sérgio Arruda é doutor em Literatura Comparada pela UFRJ e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)

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