A ladainha do combate à corrupção

Por Simão Zygband

O brasileiro é um povo pacato, mas que gosta de ser enganado. Por três vezes na história recente do país, caiu na ladainha de que surgiria um Messias que, em um passe de mágica, acabaria com a corrupção endêmica que assola o Brasil.

O primeiro deles foi o ex-presidente Jânio Quadros, aquele mesmo da “vassourinha”, que iria varrer a corrupção do Brasil. O segundo foi Fernando Collor de Mello, que se notabilizou como o “caçador de marajás” e, por fim, o atual mandatário, o capitão reformado Jair Bolsonaro, que iria “acabar com a mamata”.

Todos os três, evidentemente, não passaram de uma farsa, que os brasileiros mais desatentos (para se dizer o mínimo), se permitiram enganar. Evidente que o atual ocupante da cadeira de presidente faz com que os outros dois parecessem crianças do jardim de infância, tal gama de barbaridades e desrespeito cometidas pelo ex-militar que, dizem, tem relações com as milícias cariocas.

Com o símbolo da “vassourinha”, Jânio Quadros venceu com 48,26% dos votos as eleições de 1960, derrotando o candidato governista, apoio Juscelino Kubitscheck, o marechal Henrique Teixeira Lott.
Claro que Jânio Quadros não conseguiu combater a corrupção. Como sempre acontece nos governos populistas, congelou os salários dos trabalhadores para tentar controlar a inflação e a dívida externa. Para variar, quem acabou pagando o preço do “combate à corrupção” foi o assalariado.

Com apenas oito meses de governo, de janeiro a agosto de 1961, o presidente tentou efetuar uma manobra golpista e renunciou ao cargo. Pensou que seria reconduzido ao cargo, mas acabou abrindo as portas para o golpe militar de 1964.

Caçador de marajás

Outro presidente que os brasileiros acreditaram que iria combater a corrupção e os “marajás” do serviço público foi Fernando Collor de Mello. Ele foi o primeiro mandatário eleito diretamente pelo povo após o regime militar. Ao contrário de Jânio, que levava uma vida modesta, Collor logo passou a ter uma vida nababesca de causar inveja aos marajás.
Na mansão que ele ocupava, de propriedade de sua família, conhecida como Casa da Dinda, no Lago Norte de Brasília, mandou construir (com recursos de origem não declarada) um jardim só visto nas telas de Hollywood. Ao redor da mansão mandou o paisagista José Roberto Nehring plantar 200 árvores de grande porte e 40 frutíferas. Mas, sem dúvida, o maior destaque da obra faraônica ficou por conta das cachoeiras motorizadas, inserida em meio a lagos artificiais.

Fernando foi acusado de corrupção pelo próprio irmão, Pedro Collor e perdeu o controle da economia, após confiscar a poupança da população. No dia 29 de dezembro de 1992, o presidente renunciou para evitar o impeachment.

Mansão de R$ 6 milhões

Bolsonaro é um capítulo à parte. Novamente conseguiu enganar o eleitor brasileiro com o discurso de combate à corrupção, desta vez atacando um velho adversário dos conservadores brasileiros: o PT. O militar reformado elegeu-se (com vários artifícios, diga-se de passagem) como aquele que iria salvar o Brasil do esquerdismo, da corrupção. Acabaria com a “mamata”, dizia o boquirroto capitão.
Mas a prática de Bolsonaro logo mostrou que aquilo não passava de conversa fiada. O seu motorista, Fabrício Queiroz, foi flagrado movimentando R$ 1,2 milhão supostamente das chamadas “rachadinhas” (apropriação de recursos dos salários dos funcionários, muitos deles “fantasmas”). Parte destes recursos regaram as contas da primeira dama, Michele Bolsonaro. Foram R$ 89 mil, possivelmente para despesas domésticas.

O filho do presidente (sic), Flávio Bolsonaro, eleito senador pelo Rio de Janeiro, é um grande empreendedor imobiliário. Adquiriu 37 imóveis nos últimos 16 anos. O mais recente é uma mansão hollywoodiana avaliada em R$ 6 milhões em Brasília. Grande parte dela paga em dinheiro vivo.
O que os eleitores de Bolsonaro ganharam em troca por acreditarem nas ladainhas do capitão reformado? Um índice de desemprego galopante de 14 milhões de pessoas, uma reforma da Previdência que inviabilizará a aposentadoria de milhões de brasileiros, reajustes ridículos no salário mínimo, combustível a R$ 6 reais o litro (contra R$ 2,50 nos tempos do PT), gás de 80 a 100 reais o botijão (contra R$ 35 na época petista) entre tantos sacrifícios. Isso sem contar o descontrole no combate à pandemia do coronavírus, que já infectou 13 milhões de brasileiros e tirou a vida de outros 335 mil.
E ele ainda fala em nome de Deus!

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