Por Simão Zygband
Sicupira, Lemman e Telles
Não é todo dia que os bilionários saem do anonimato e se transformam em notícia. São homens discretos, que preferem os bastidores aos holofotes. Por detrás de suas canetas Montblanc, ternos Stuart Hughes Suit, escritórios refrigerados e nos assentos de jatinhos, se decidem ações financeiras de forte impacto, além de contribuições polpudas para financiar políticas nos países emergentes, onde dispõem de poder imensurável.
Mas as crises financeiras e políticas lhes tem obrigado a sair do anonimato e terem seus nomes ventilados pela mídia, gerida também por poderosos empresários de Comunicação, em geral seus parceiros, verdadeiros porta-vozes dos interesses deste restrito grupo de bilionários, donos de bancos, holdings, gigantescos negócios.
Recentemente, durante sua participação em um evento no banco Credit Suisse, em São Paulo, o bilionário Abílio Diniz, com um patrimônio avaliado em U$ 2,5 bilhões, revelou que teme de que a reforma tributária proposta pelo governo Lula seja no modelo “Robin Hood”, “que tire dos ricos para dar aos pobres”.
“A tributação de dividendos deve ser feita acima da pessoa jurídica, para haver compensação. Não sobre a pessoa física. Tenho um pouco de receio de como vão fazer a reforma tributária”, choramingou o pobre bilionário. Como se sabe, o Governo Federal defende a necessidade de maior justiça fiscal por meio de uma reforma progressiva, onde os mais ricos paguem mais impostos.
Outros que ganharam os holofotes, apesar de nunca gostarem destas evidências, foram os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, principais acionistas da Lojas Americanas, envolvidos em um escândalo bilionário, que veio a tona no dia 11 de janeiro, quando a empresa divulgou as “inconsistências em sua contabilidade”, que podem atingir mais de R$ 40 bilhões, colocando em risco o emprego de 43 mil trabalhadores e uma cadeia de credores e acionistas.
Eles são suspeitos de terem manipulado artificialmente o estouro, o que lhes renderia bilhões em lucros, bem mais do que as aparentes perdas.
“Assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto”, alegaram os três acionistas em nota divulgada pela imprensa.
Em participação no UOL News desta quinta-feira, o colunista Kennedy Alencar comentou sobre a entrevista exclusiva que fez com Lula para o É Notícia! O jornalista destacou que, na conversa, o presidente da República criticou Jorge Paulo Lemann devido ao rombo de nas Americanas.
“Aí não é nem pedalada, é motociata. Eu acho que a gente é pequeno, a gente aprende que ‘nada como um dia atrás do outro’. Esse Lemann era vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta Terra. Ele era o cara que financiava jovens para estudarem em Harvard para formar um novo governo. Era um cara que falava contra a corrupção todo dia. E agora ele comete uma fraude que pode chegar a R$ 40 bilhões”, disse ele, de acordo com o colunista.
É claro que o presidente Lula se preocupa com a maneira como os bilionários se movimentam, sobretudo após a sua retumbante vitória sobre o extremista Jair Bolsonaro. Sob Lemann, Sicupira e Telles ainda paira a suspeita de realização de uma operação semelhante a das Americanas em outra holding do grupo, a Ambev, também às voltas com um “rombo” de R$ 30 bilhões.
“Agora me parece que está chegando na Ambev também. É o seguinte: vai acontecer o que aconteceu com Eike Batista. As pessoas vendem uma ideia que eles não são, na verdade. O que eu fico chateado é que qualquer palavra que você fala na área social, […] o mercado fica nervoso, fica muito irritado. E, agora, um deles joga fora R$ 40 bilhões de uma empresa que parecia ser a empresa mais saudável do planeta. E esse mercado não fala nada, fica em silêncio. Por que tanto amor pelos grandes e tanto desinteresse pelos menores?”, disse Lula sobre o caso das Americanas.
O governo Lula precisa monitorar todos estes movimentos exóticos dos bilionários.