Por Simão Zygband
Tudo parecia um céu de brigadeiro para a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando apareceu um impasse para a montagem da chapa no Rio de Janeiro. PT e PSB não se acertaram nas paragens cariocas e travam uma disputa fratricida, que pode arranhar a candidatura petista.
Prefiro não apontar culpados, pois os tempos andam tão intransigentes que seria difícil acertar no que causou a discórdia. Visto de longe, parece haver muita intransigência de lado a lado e ninguém quer ceder. Bem diferente do que ocorreu em São Paulo, onde a equação política definiu Geraldo Alckmin como vice de Lula, abrindo espaço para a candidatura a governador de Fernando Haddad e de Márcio França ao senado. Há de se destacar a grandeza de França ao abdicar do cargo que pleiteava, cumprindo a própria promessa de sair ao governo do estado quem estivesse na frente (no caso Haddad). Foi uma importante decisão.
Em Pernambuco, a costura não ocorreu sem traumas. O PT, para cumprir a promessa de acordo, cortou na própria carne e sacrificou a candidatura da petista histórica Marília Arraes (neta do legendário Miguel Arraes), que liderava as pesquisas de intenção de votos, para abrir espaço para a do deputado federal Danilo Cabral (PSB), que entre outros problemas votou pela deposição da presidenta Dilma Rousseff. Marília mudou de partido, se filiou ao Solidariedade, e lidera as pesquisas de intenção de votos no estado.
Já no Rio de Janeiro, não houve acordo, diante de uma aparente fogueira de vaidades incontrolável de parte a parte. No celeiro do bolsonarismo, onde a política se mistura com o banditismo das milícias, o quadro político para a centro-esquerda se mostra perverso e, caso nenhum dos lados ceda, haverá prejuízo inevitável para a candidatura de Lula e também aos candidatos proporcionais.
O impasse, todo mundo sabe, é entre as candidaturas ao Senado de André Ceciliano (PT) e Alessandro Molon (PSB). Freixo fincou o pé e insistiu na manutenção da candidatura peesebista, passando por cima do acordo entre PT e PSB.
Em represália, o diretório estadual do PT aprovou resolução retirando o apoio à candidatura de Marcelo Freixo na disputa ao governo do Estado “em razão do descumprimento do acordo pelo qual o partido indicaria o candidato ao Senado da aliança”. O presidente do PT-RJ, João Maurício, afirmou que a aliança perdeu sentido, dada a pretensão hegemônica do PSB.
“Não vemos sentido em fazer parte dessa aliança, já que o PSB quer uma posição hegemonista. Diante da intransigência do presidente Siqueira que indicou o apoio à candidatura de Molon, vamos seguir defendendo Ceciliano e vamos levar a decisão ao diretório nacional”, afirmou.
Em um documento assinado pelos candidatos a deputado estadual pelo PSB, Lucélia Santos, Marcos Uchoa, Tiago Gomes, entre outros, o presidente do PSB, Carlos Siqueira volta atrás e defende agora que Alessandro Molon desista da candidatura ao Senado e saia a deputado federal:
” Dedicaremos todos os esforços para que ele seja o mais votado do estado. Essa resolução é primordial para o partido, pois será a forma de – além de mantermos a qualidade do seu nome na Câmara- ajudar a eleger uma bancada grande socialista. Temos uma tarefa principal que é eleger Lula e Alckmin e estamos vendo a crise política que a questão do Senado está causando para a chapa nacional e, óbvio, para a coesão da chapa estadual. A candidatura de Molon ajudará muito o Brasil e o PSB Fluminense e precisamos estar a serviço disso. Temos certeza que o nosso companheiro não se furtará a essa tarefa nesse momento político tão grave do país”.
Alessandro Molon é o candidato ao Senado anti-bolsonaro mais bem colocado nas pesquisas. Ele tem 10% das intenções de votos, empatado com o ex-jogador Romário (PL). Esta boa colocação tem sido o discurso mais eloquente para quem defende a sua candidatura. Já o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) tem 9%. Todos estão tecnicamente empatados.
Olhando de fora, com olhar paulistano, não vejo por que Molon deva seguir a ferro e fogo com a sua candidatura. Justamente ela que está criando o impasse. Seria estrategicamente melhor tirar ele da disputa, pois os dois candidatos bolsonaristas tendem a se juntar e dificilmente a centro-esquerda elegerá este candidato. Aparentemente é uma questão perdida, apesar de eleição ter suas surpresas. Mas é melhor Lula não eleger o senador do Rio de Janeiro, mas ampliar sua base parlamentar na Câmara dos Deputados.
Lula já declarou apoio a Ceciliano, que tende a perder as eleições, evidentemente (apesar disso não ser tão certo). Por que trocar o certo pelo duvidoso, já que não é certa também a vitória de Molon, ainda mais fragmentando a esquerda?
Enfim, não ia me posicionar, mas me posicionei.