Construir Resistência
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A esquerda brinca com fogo

Por Simão Zygband

 

O episódio da queima da estátua do bandeirante Borba Gato dividiu opiniões, corações e mentes. Muitos julgaram ser um ato de coragem realizado por um emergente grupo denominado Revolução Periférica, cujo objetivo era destruir um monumento de gosto duvidoso encravado na entrada do bairro de Santo Amaro, na zona Sul de São Paulo, que homenageava um genocida que escravizou e assassinou indígenas. 

Para azar, o grupo foi facilmente identificado (utilizou uma camioneta de carreto com número de celular pintada no baú aparecendo em um vídeo gravado durante a ação) e um dos líderes, que é também liderança dos entregadores antifascistas, Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, teve prisão preventiva decretada, juntamente com sua esposa, Géssica, que sequer participou do ato. Eles respondem por incêndio, associação criminosa e adulteração de placa de veículo. 

Um dos defensores do ataque à estátua do Borba Gato foi o jornalista Breno Altman, tradicional quadro da esquerda paulista. “Foi um ato de guerra cultural. Nos tempos das redes, e a extrema-direita percebeu isso faz tempo, não há espaço para regras civilizatórias. A ação tem que visibilizar uma pauta e defender um ponto de vista com toda a radicalidade. O convencimento vem depois”, disse ele.

Outra vertente (na qual eu me incluo)  considerou a  atitude impensada e premeditada, que acaba colocando gasolina em um momento em que os nervos do país estão à flor da pele, seja pela grave crise econômica, pelo magnitude das mortes pela Covid-19 ou por dar gás para a caldeira claudicante, neste momento, da extrema-direita de Jair Bolsonaro.

Um dos principais representantes desta visão, que considerou precipitada a ação do grupo Revolução Periférica, foi o também jornalista Alceu Castilho, do site De Olho nos Ruralistas, no texto denominado “Preparem-se: vai faltar pneus”. 

 Veja o que ele escreveu, cujas ideias estão assim resumidas “O que defende tal movimento (o Revolução Periférica)?  Estaremos apoiando exatamente o que? Ninguém cogita a hipótese de um Borba de Tróia? A Revolução Periférica sabe quem promove as violências contra indígenas neste país? São milhares, dezenas de milhares de protagonistas, dos fazendeiros aos meios de comunicação. Passando pelo Congresso e cada órgão público deste país (prefeituras, Assembleias). Pelo capital, pelos banqueiros. Com jagunços, com polícia, com tudo. Um sistema complexo. Vão botar fogo em tudo, em todos eles?”, questionou ele.

A direita contra-ataca

Os apoiadores do Revolução Periférica (cujos líderes precisam ser libertados, pois assumiram a autoria do ato e devem responder em liberdade), possivelmente não tenham percebido o momento explosivo que o país atravessa. Talvez não fosse a hora de realizar ação isolada e colocar fogo na fornalha golpista. Há quem ache importante praticar a ação e não permitir que a cidade de São Paulo homenageie um “genocida” e nada faça contra isso.

Aparentemente, como  resposta ao ato contra a estátua de Borba Gato, grupos não identificados picharam de vermelho a pedra que marca o local onde foi assassinado em uma emboscada em São Paulo o líder revolucionário Carlos Marighella e também a escadaria que homenageia no bairro de Pinheiros a vereadora do PSOL carioca,  Marielle Franco, assassinada também em uma emboscada armada pela extrema-direita. 

Para piorar, também ardeu em chamas o acervo da Cinemateca Nacional, localizado na Vila Leopoldina, em um incêndio em que ainda não foram divulgadas as causa, apesar de também haver suspeita de que tenha sido provocado.

Enfim, nada leva a crer que, neste momento, atitudes de força contribuam com o país. Todos devem estar empenhados em garantir as eleições de 2022, já que a extrema-direita, que tende a sair derrotada nas urnas, dá mostras que não pretende aceitar o resultado que não seja a continuidade do desgoverno fascista. 

 

Incêndio na Cinemateca
Pixacão da homenagem a Marighella

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