Roberto Garcia
Fala-se em estabilidade quando as coisas ficam como estão. Instabilidade é quando não se sustentam e tem que mudar. Às vezes muda-se em busca da estabilidade. Mas aí tem que dar algum tempo, para ver se ficou diferente e melhor. Tem a troca de seis por meia dúzia e aí não melhorou nem piorou.
Confirmaram-se as suspeitas. As coisas não estavam bem. Há um rebuliço em andamento. A insistência em manter as coisas como estavam, exigida por Jair e pela família, que já durava algum tempo, não emplacou. Eles queriam empurrar as coisas para um lado que a nação não queria ir.
Mas a nação é constituída por muitos segmentos e nestas horas cada um está puxando para os seus interesses. Uns estão dispostos a ceder um pouco mas não querem a derrocada. Outros não querem dar nada. Acham que se der um pouco perdem tudo. Esse regime ainda representa muitos interesses. Quais?
Quem andava segurando esse barco eram os militares. Eles se meteram nessa enrascada, estava bom, a patota lucrava. Tinha que engolir sapo, mas melhor engolir lucrando que ficar de fora. O problema é que os que estão no topo das forças não ficam na caserna, vão prá casa todo dia, enfrentam mulher, filhos, vizinhos, as amizades de fora, que já não cumprimentam com aquele entusiasmo de antes.
Tem o pessoal dos negócios, que já não está tão contente. Eles tinham mergulhado de cabeça mas todos os ganhos desde então podem se revelar ilusórios. E tem muita gente perdendo dinheiro.
As igrejas não têm cabeça. Só tem interesses. E esses estão bem servidos. Morrem alguns fiéis mas os dízimos deles são compensados pelas mamatas que o governo está dando. De perdão de dívida passada a isenção de impostos no futuro. Pastor de tv não é mais como os de antigamente. A língua deles agora é grana. Jesus anda muito ocupado com outras coisas.
Tem a malta de raiz. Esses apóiam tudo. Aplaudem antes de saber do que se trata. Jair está certo sempre, não faz nenhum erro. Os críticos é que estão com o diabo. Eles estão sempre com o Senhor e com Jair.
Resta o resto, amigos, você e eu. Não sei o que falar de você, mas eu não estou gostando. Não são apenas os 320 mil mortos, opa, amanha já chega ao meio milhão. Os desempregados oficiais, os que já nem procuram emprego e ai deixa de constar da lista oficial. Mas estão lá. Esses andam mal. Não tem gente suficiente para comprar tanta pipoca e muamba que tanto desempregado tenta vender. Quase todo o resto incomoda, a educação, a saúde, a falta de perspectiva nos outros campos, a certeza de que só vai piorar.
E as chamadas forças externas? A saída de Ernesto alivia mas não resolve. Poucos acreditam no Guedes, que já deu o que tinha que dar. As promessas dele de um trimestre melhor já não valem. Tudo o que ele tocou derreteu e quem ficar perto dele pode se queimar. Tem muita coisa ainda que não está definida e que por enquanto está no ar. O pessoal das finanças não gosta de instabilidade, ganha mesmo com ela, mas existe uma sensação de que vai piorar.
O resto do ministério é ruim de bola, não tem um em quem confiar.
Calcule embaixada estrangeira e uma em particular. As luzinhas dos modems deles não param de piscar. Mas calcule se Tio Biden apóia Jair Messias. E que tal Mourão?
Ele pode ser mais confiável, mas também pode ser um vespeiro, só entra em esquema se for para ficar. Por menos de dois anos de governo vale a pena arriscar?
Mas tome alguma distancia, veja o que se tem em mãos e qual a alternativa. Se fizer eleição agora o sapo barbudo é quem leva e ai precisa analisar. Nos governos dele mais se ganhou do que se perdeu. Mas se ele vem agora, em cima da derrota de Jair e de tudo o que ele representou, o jogo pode mudar.
Roberto Garcia é jornalista.