Por Miriam Waidenfeld Chaves
Afinal, por onde andaria a minha caixinha de madeira? Não era uma caixinha de madeira qualquer. Tratava-se de uma caixinha de madeira comprada em minha lua de mel, na Índia.
Era a caixinha de madeira mais linda que eu já tivera.
A caixinha de madeira era toda marchetada. Na época, o indiano que a vendeu disse “it’s an antique box”. Pagamos uma fortuna por aquela caixinha de madeira marchetada.
Eu poderia ter escolhido outra caixinha. Uma caixinha de marfim. Era até mais barata. Mas não houve jeito. Aquela caixinha de madeira marchetada parecia que havia sido esculpida para mim.
Estou há dois dias me perguntando: por onde andará a minha caixinha de madeira marchetada comprada em minha lua-de-mel, na Índia? Desde sábado, desapareceu da terceira gaveta de meu guarda-roupa.
Será que alguém a roubou? Quem sabe, não foi a minha filha que a pegou para descobrir os meus segredos? Talvez possa ter sido Clarice, minha neta.
Fiquei desesperada.
De repente, lembrei-me que havia colocado fogo em minha caixinha de madeira. Só encontrei bugigangas – cartas, fotografias, pequenas folhas secas, poemas, algumas lembranças – dentro dela. Sem mais nenhuma serventia, acreditei.
Nessa hora, num instante de lucidez, me dei conta de que já não era mais a mesma. Estarrecida, compreendi que a minha memória virara pó.
Miriam W. Chaves é professora da UFRJ e contista