Construir Resistência
Foto: arquivo pessoal

A arte resgatando vidas

Por Beatriz Herkenhoff

A arte, com sua beleza e intensidade, conta a história dos povos, seus costumes, valores, crenças, derrotas e conquistas. Resgata nossa integridade como ser humano.

A arte sempre exerceu papel fundamental na história da humanidade. Todas as expressões artísticas são terapêuticas e belas: a dança, a música, a literatura, a poesia, o cinema, o teatro, a pintura, o desenho, a escultura, o bordado, o crochê, a tapeçaria, a costura, o trabalho em madeira, barro, ferro entre tantos outros.

Amo ouvir uma boa música, dançar, ler e escrever, mas, a minha maior paixão é o cinema. Para mim, assistir filmes é um poderoso recurso para que eu realize um encontro comigo mesma. Reservar um tempo do meu dia para um bom filme possibilita a construção do meu equilíbrio físico, mental, psíquico, emocional, afetivo, cultural e espiritual.

Cada pessoa tem o seu estilo de filme preferido: animação, suspense, aventura, faroeste, ação, comédia, terror, guerra, musical, romance, drama, erótico, etc. As pessoas são únicas, por isso gosto não se discute. Cada qual processa sua história de vida ao mergulhar no filme de sua preferência.

A arte cinematográfica torna a vida mais leve, e também mais pesada, dependendo dos questionamentos que nos apresentam, e, se queremos nos deixar transformar pelos mesmos. Ao ver um filme revivemos histórias de perdas, de amores impossíveis, de separações através da morte ou limitações por doenças e acidentes. Também, histórias de conquistas e superações.

As comédias nos fazem gargalhar e possibilitam um olhar alegre sobre a realidade. Luzes e sombras dialogam na vida e na arte.

Alguns filmes são difíceis de assistir, seus temas são pesados. Ao final, sentimos como se tivéssemos levado um soco no estômago, pois nos trazem para a realidade de abusos contra mulheres, crianças, trabalhadores. Opressões em relação aos negros, LGBTQIA+, povos, etnias.

Ao mesmo tempo são necessários, pois, possibilitam a revisão de nossos valores, crenças e posturas diante da vida. Colocam o dedo na ferida do nosso comportamento preconceituoso e excludente. Resgatam histórias reais, que mudaram o rumo da humanidade.

Outros filmes nos transportam para um mundo mágico de alegria e esperança, em que voltamos a acreditar no amor e no ser humano. Reacendem a certeza de que dias melhores virão, de que seremos capazes de construir luzes num momento em que a sombra toma conta do nosso ser e quer fazer morada.

Quando eu me aposentei em 2016, passei a frequentar, três vezes por semana, o #CineJardins (Vitória, Espírito Santo). Durante anos, o Cine Jardins nos presenteou com filmes maravilhosos! Filmes que tocam a alma, a emoção e nos convidam a nos colocar no lugar do outro. A mergulhar em nosso mundo interior e deixar vir à tona nosso feixe de luz, mas, também nossas sombras.

O cinema é uma arte que nos coloca num ambiente de isolamento. O ritual das luzes se apagando nos convida para a concentração e o desligamento do mundo externo. O escurinho do cinema permite nossa inteireza para captarmos tudo que irá acontecer. Esse ritual faz toda diferença em relação às outras artes, é preciso desligar para concentrar e desfrutar.

Quando os cinemas fecharam na pandemia, senti-me órfã. Perdi a rotina que dava um prazer especial à minha vida. Mas, consegui redirecionar minha energia e passei a assistir filmes em casa, com minha mãe. Após cada filme, tomamos um delicioso café para debatermos sobre as mensagens deixadas pelo filme. Desde março de 2020 já assistimos 300 filmes e 15 séries.

Também, formei um grupo on line com minha amiga e sua filha que moram em Barcelona. De 15 em 15 dias escolhemos um filme para assistir e debater. Tem sido muito rico. A arte cinematográfica e a vida misturam-se num lindo movimento de descobertas, de trocas de sentimentos, sensações e percepções.

Amo animação, e assisti inúmeros desenhos no cinema com a Beatriz (criança fantástica que amo infinitamente). Desde os sete anos, Beatriz amava debater sobre o conteúdo dos filmes.
Saíamos do cinema e o sorvete era uma desculpa para falarmos sobre o que gostamos e o que não gostamos naquele filme.

Com a #pandemia ficamos impedidas de nos encontrar. Então frequentemente, escolhemos um desenho animado, cada uma assiste em sua casa e ligamos de vídeo para debatê-los. Para mim, um novo universo se abriu, pois, Beatriz passou a escolher filmes japoneses de animação (animé). Todos fantásticos!

Sinto-me renovada a cada filme que assisto. Ao invés de ficar na lamentação daquilo que perdi, crio novas oportunidades para continuar dialogando com a arte cinematográfica. Em tempos de isolamento, é preciso resistir com criatividade e coragem.

E vocês? Têm tirado um tempo no seu cotidiano para assistir filmes?

Se não, façam essa experiência e partilhem. Vamos transformar nossas vivências individuais em histórias coletivas.

Festar,

esperançar,

viver a arte em suas múltiplas possibilidades é um caminho que se apresenta em tempos difíceis.

E, se vocês gostaram desse tema, indico alguns filmes que fizeram a diferença em minha vida nesse período de #pandemia:

Como estrelas na terra (2007);

Escritores da Liberdade (2007);

Cinar Agaci (2011);

Sadec Sem (2014);

Palmeiras na Neve (2015);

Maudie (2016);

Reino Unido (2016);

Bem vindo a Marly Gomont (2016);

Nossas noites (2017);

Sociedade Literária e a torta da casca de batata (2018);

Carta ao primeiro Ministro (2018);

Infiltrados no Clã (2018);

Dois papas (2019);

O menino que descobriu o vento (2019);

Secreto e Proibido (2020);

Enola Homes (2020);

Os sete de Chicago (2020);

Relatos do Mundo (2020);

Destacamento Blood (2020);

AmarElo (2020);

A voz Suprema do Blue (2020);

Uma noite em Miami (2021);

Escavação (2021).

#Bomfilme
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da Universidade Federal do Espírito Santo.

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