“O povo quer o herói sargento que seja como ele: povo” – Lourenço Diaféria

Por Luiz Avelima

 

Em 28 de agosto de 1933 nasceu Lourenço Diaféria, contista, cronista e jornalista (faleceu em 2008). Diaféria, que começou sua vida jornalística na “Folha da Manhã, foi preso pela ditadura militar em setembro de 1977, após a publicação do texto “Herói. Morto. Nós”, sobre um bombeiro que salvara a vida de um garoto num poço de ariranhas no zoológico de Brasília e morreu, e o comparava a Duque de Caxias.

E falava da estátua de Caxias que fica ali na Praça Princesa Isabel bem ao lado da Cracolândia: “O povo está cansado de estátuas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal. Ao povo desgosta o herói de bronze, irretocável e irretorquível, como as enfadonhas lições repetidas por cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar. O povo quer o herói sargento que seja como ele: povo. Um sargento que dê as mãos aos filhos e à mulher, e passeie incógnito e desfardado, sem divisas, entre seus irmãos.”
O texto, considerado ofensivo às Forças armadas, foi publicado na “Folha de S. Paulo” (p.44) em 1º de setembro de 1977.
Aquela prisão me irritou tanto, como a meus amigos, que acabei escrevendo um poema aludindo, em determinado momento, a prisão de Diaféria. Aquilo foi mais uma das asneiras daquele período horroroso
E pensando nesse texto me vem à mente que quando estava na Secretaria de Cultura vasculhamos mundos e fundos para encontrar algo que pertencia a Caxias: a pata de seu cavalo foi roubada
Diaféria sofre um infarto que o levou em 2008. Entre suas obras “Um gato na terra do tamborim” (1976), “Berra, coração” (1977), “Circo dos Cavalões” (1978), “A morte sem colete” (1983), “O Empinador de Estrelas” (1984), “A longa busca da comodidade” (1988), “Papéis íntimos de um ex-boy assumido” (1994), “Brás – Sotaques e desmemórias” (2002). “Os gatos pardos da noite”, “Coração Corinthiano” (1992) e “A caminhada da esperança” (1996).

Luiz Avelima é poeta, escritor, tradutor e jornalista. Possui vários livros editados e traduziu autores como Dostoievski e Mikhail Bulgakov. Trabalhou como Diretor de Atividades Culturais na Fundação Memorial da América Latina e na Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo

 

 

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