Construir Resistência

6 de julho de 2022

Globo descarta Casagrande depois de abocanhar milhões de Bolsonaro

Por Simão Zygband com informação das redes sociais Agora a TV dos Marinhos vai bajular o miliciano que cuspiu nela. Os bolsominions estão desorientados. Justo eles que tratavam a emissora carioca como Globolixo.   O ex-jogador e comentarista Walter Casagrande Jr foi demitido da TV Globo nesta quarta-feira (6). Ele estava na emissora há 25 anos. O próprio ex-atleta reconheceu que a decisão foi um ‘alívio’ A informação foi dada pelo comentarista, em um vídeo postado em suas redes sociais. “Depois de 25 anos de Globo, seis Copas do Mundo, cinco finais, incluindo a de 2002, com os dois gols do Ronaldo, três Olimpíadas e diversas finais de campeonatos por aí, meu ciclo acabou. Estou saindo da Globo hoje, não faço mais parte do grupo de Esportes da TV. Vou seguir a minha estrada. Na realidade, acho que foi um alívio para os dois lados”, postou. O contrato do comentarista venceria em dezembro, mas sua saída foi antecipada, e a rescisão foi assinada nesta quarta-feira (6). O ex -jogador começou como comentaarista na ESPN, e depois se transferiu para a Globo. Na emissora, comentou jogos da seleção brasileira e, principalmente, nos confrontos de clubes paulistas. Casagrande, uma das lideranças da Democracia Corithiana, nunca escondeu suas posições políticas e sua admiração por Lula e pelo PT. Era crítico do governo do genocida Jair Bolsonaro, cujos interlocutores com a emissora devem ter “pedido a cabeça” do Casão. Uma prática antiga no jornalismo.   O derrame de dinheiro  Apesar das constantes críticas a TV Globo, o governo de Bolsonaro aumentou em 75% os gastos em publicidade na emissora em 2022, ano em que o presidente tenta a reeleição. Os dados são da Secretaria de Comunicação e foram divulgados pelo portal Uol. Entre 1º de janeiro de 21 de julho de 2021, o governo de Bolsonaro pagou R$ 6,5 milhões para a Globo divulgar publicidades ligadas ao Planalto – tanto em âmbito nacional quanto regional. No mesmo período de 2022, o valor subiu para R$ 11,4 milhões. Segundo o levantamento realizado pelo Uol, o foco da publicidade do governo são as campanhas institucionais, que mostram os feitos da gestão de Jair Bolsonaro. Esse seriam um meio de tentar alavancar a popularidade do presidente da República. Bolsonaro nunca escondeu a preferência pessoal por outras emissoras, que são mais receptivas a ele, como SBT e Record, enquanto fazia críticas a Globo. No entanto, com a eleição em vista, a maior emissora do país já recebeu mais do que outras redes que são favoráveis a Bolsonaro. Em 2022, somando os gastos com as cinco maiores emissoras de TV aberta do país, Globo, SBT, Rede TV, Record e Bandeirantes, o governo já gastou mais de R$ 33 milhões em publicidade. O valor é o maior desde 2019. Segundo dados divulgados pelo Uol, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, foram R$ 30,4 milhões em publicidade no mesmo período, de 1º de janeiro de 21 de julho. Em 2020, R$ 11,8 milhões e, em 2021, 29,5 milhões.

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Dissenso dos “Washingtons”

Por Washington Luiz de Araújo, jornalista Compartilhado do Blog Bem Blogado Muitas críticas ao publicitário Washington Olivetto por ter publicado em jornais o texto “O Rio Continua lindo”, no qual conta o passeio do seu filho, Theo, e mais quatro amigos, três estrangeiros e um brasileiro. Isso antes do pimpolho seguir para estudar cinema em Universidade na California. Não me surpreendi com o texto que faz alarde a um Rio paraíso. Não fiquei nada surpreso porque sei que pessoas como o meu xará vivem num outro mundo e tratam que seus filhos permaneçam neste “Mundo de Truman”. Um mundo no qual não existe fome, miséria. Um mundo no qual não se vê ou não quer ver a vizinha Rocinha, que nada sabe sobre as agruras de quem lá vive. Um mundo que, para os Washington Olivettos, é um céu. Conto aqui uma historinha. Há coisa de 35 anos trabalhava em São Paulo numa revista da indústria de cosméticos. Tinha alguns amigos publicitários, dentre os quais o Marino Anselmo. Pois bem, de vez em quando tomávamos umas cervejinhas. E, certa vez, comentei com o Marino que, de vez em quando, telefonava para jornalistas ou publicitários em razão do trabalho e me identificava. Invariavelmente, quando dizia meu nome, Washington, perguntavam: o Olivetto? E eu tinha que explicar que era e quem era o Washington Araújo. Foi um comentário banal, de boteco, sem nenhuma importância. Marino só ouviu e mudou de assunto. Um belo dia, o meu amigo me liga e afirma exultante: “Washington acabei de vingar você”. Quis saber qual e quem foi o alvo da vingança e ele disse, mais ou menos assim: “O Washington Olivetto me ligou dizendo somente: ‘Marino, aqui é o Washington’.  Eu perguntei de pronto, o Araújo? E ele respondeu meio puto da vida: ‘Que Araújo que nada Marino, quem é este Araújo. É o Washington, o Olivetto, porra’ Achei engraçada a iniciativa do Marino e fiquei pensando: será que o Olivetto acha que só tem um Washington no mundo das comunicações? Só o W no Brasil? Pois é, lá se vão três décadas e meia e vejo que, pelo seu texto o Olivetto, continua ignorando os Araújos, os Silvas… Ah, moro no Rio há mais de 20 anos. Antes, morei em São Paulo desde o segundo ano de vida, vindo de Pernambuco. Uma coisa que aprendi nesta vida é olhar, sentir que existe um outro mundo além do meu conquistado com muita luta. Como consenso com o Washington xará, a respeito do seu  texto, somente a Portela da Tia Surica e a Barraca do Uruguaio do Milton Gonzalez, da querida Glória e família, no Posto 9. Eles que sabem muito bem que o Rio é comprido e largo, muito largo, bem mais largo do que as dimensões do mar para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Washington Olivetto, vá passear, conheça um Rio que, infelizmente, não continua lindo socialmente falando. Rio de miséria que, talvez estivesse melhor se pessoas da sua posição econômica se preocupassem mais com as mazelas sociais impostas ao povão. No mais, entendo que você continua muito esperto no campo publicitário. Não é que reconquistou uma certa celebridade com este texto enaltecendo o seu Rio maravilha? Ah, encerro com o final do texto do publicitário, quando este perguntou ao filho sobre as impressões com este passeio: “Pai, é simples: ainda nem começamos a faculdade e já fizemos uma pós-graduação de vida”. Que vida? Pergunto eu, Washington Araújo. Abaixo, texto extraído, dos muitos do Facebook, de Antonio Quixadá e imagem do artigo de Washington Olivetto: UM ABUTRE E O SEU CAIPIRISMO DESLUMBRADO “Costumava ir à praia com minha filha em Ipanema, perto do Fasano. Vi uma ou duas vezes seus filhos, gêmeos, passando por ali. Moravam num prédio em frente, na Vieira Souto, o metro quadrado mais caro do país. Washington Olivetto foi – ou é, não sei, pois não sou do meio – um dos papas da propaganda brasileira, dizem que um gênio. Tem educação, cultura, inteligência, criatividade e dinheiro. Muito. Enriqueceu graças ao seu trabalho. É justo. No entanto, como pode alguém com tantos predicados escrever algo tão descolado da realidade do país, com 33 milhões de pessoas passando fome, outras tantas desempregadas, inflação galopante, alto endividamento familiar e uma crise institucional sem precedentes? O “céu” vivido por seu filho e amigos na cidade, enquanto faziam hora para partir para suas faculdades no exterior, é inimaginável para a maioria dos cariocas e dos brasileiros em geral. Mesmo a “vida real”, como ele chama – em Londres para os amigos e em Orange County para o filho -, é algo muito distante da vida real dos habitantes de Pindorama. O Rio de Janeiro é lindo se você for rico e puder gastar em menos de uma semana o orçamento de meses de trabalho de uma família menos abonada. Não há nada de – vá lá – errado em um filho desfrutar da fortuna honesta do pai, mas escrever sobre isso, num momento como o atual, é de um mau gosto e de uma deselegância que deixam à mostra, mais uma vez, a profunda insensibilidade da nossa elite.”

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PEC do Desespero é estelionato eleitoral, denuncia líder do PT

Da Redação PT na Câmara       O líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG), acusou o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro de tentar praticar um verdadeiro estelionato eleitoral e enganar o povo brasileiro com a proposta de emenda à Constituição (PEC 01/22), que concede benefícios sociais de forma temporária, a três meses das eleições presidenciais. “O problema é que a fome, a carestia, a inflação, o desemprego e a miséria não terminam com as eleições”, comentou Lopes. Segundo ele, a incompetência de Bolsonaro levou o Brasil ao caos em três anos e meio à frente do governo federal e agora tenta enganar o povo, com o aumento do auxílio financeiro de R$ 400,00 para R$ 600,00, bandeira defendida há tempos pelo PT e outros partidos da oposição mas até há pouco rejeitada pelo governo militar sob comando do ex-capitão. “Às vésperas de uma eleição, esse governo leva o Senado e a Câmara a serem cúmplices de um crime eleitoral”, denunciou Reginaldo Lopes. A criação de novos benefícios faltando menos de 90 dias para as eleições é crime eleitoral tipificado pela legislação em vigor. PT a favor do aumento do auxílio à população Lopes afirmou que a Bancada do PT não vai faltar com o povo brasileiro e é a favor de mais recursos financeiros para o povo, num momento em que 33 milhões de pessoas passam fome no País. Mas advertiu que a solução é temporária, de cunho eleitoral, e é errada. “A solução é colocar o governo para fora, acabar com a dolarização da economia, do petróleo e dos alimentos”. A PEC, aprovada pelo Senado e agora em apreciação na Câmara dos Deputados, ainda reajusta o auxílio-gás e a cria o “voucher caminhoneiro”, de R$ 1.000,00. É apelidada de PEC do Desespero, diante do medo de Bolsonaro de perder a corrida eleitoral para o ex-presidente Lula. Os recursos para bancar as medidas são da ordem de R$ 41 bilhões, excluídos do teto de gastos, com o reconhecimento do Estado de Emergência previsto na proposta. Governo elitista Conforme Reginaldo Lopes, a demagogia de Bolsonaro não resolve o problema do povo brasileiro. Ele denunciou o ex-capitão por se aliar ao mercado financeiro e aos acionistas privados da Petrobras e gerar o “caos” na economia brasileira. “ Durante três anos e seis meses denunciamos nesta tribuna que a política de preços dos derivados de petróleo estava quebrando e endividando o Estado brasileiro e, mais grave, levando o Brasil à carestia”, afirmou o líder do PT. Graças à incompetência e irresponsabilidade de Bolsonaro, explicou Lopes, a inflação explodiu, prejudicando a classe média e os trabalhadores. “Um litro de leite hoje nas prateleiras dos supermercados custa quase R$ 10,00, o bujão de gás até R$130,00 e o litro de óleo diesel mais que o da gasolina, num país continental em que 85% dos produtos são transportados por rodovias”, reclamou o parlamentar. Constituição rasgada Segundo ele, a PEC significa “rasgar a Constituição e todas as leis que regem a democracia e o sistema eleitoral”, diante de um governo inoperante que nada fez para solucionar os problemas econômicos, sociais e ambientais do País. O líder do PT destacou que o País, em vez de demagogia e projetos de ocasião, como a PEC 01/22, precisa é de “programas bem estruturados, capazes de resolver o problema do povo”. “Nós precisamos encontrar soluções definitivas para o problema do Brasil”, disse, lembrando que doar R$ 1000,00 para caminhoneiros não vai resolver o problema da categoria, pois abastecer um caminhão custa mais de R$ 4 mil, além do fato de a manutenção da política de dolarização dos preços dos combustíveis continuar com efeitos colaterais sobre toda a economia brasileira. Ele lembrou que os acionistas privados da Petrobras — a maior parte estrangeiros – continua com lucros bilionários e sem pagar impostos sobre os dividendos, além de as petroleiras estrangeiras também não pagarem impostos sobre exportações. “Mas o povo brasileiro, o pagador de imposto, que ganha até dois salários mínimos, continuará sustentando uma política que não tem nem início, nem fim.” Preço dos alimentos nas alturas O líder do PT afirmou que a dolarização da economia, enquanto o povo recebe em reais e é submetido a uma política de arrocho salarial, com reajustes abaixo da inflação ou simplesmente congelamento dos salários, tem levado o Brasil a uma profunda crise social e econômica. Disse que a inflação do preços dos alimentos é uma aberração, fruto direto da incompetência de Bolsonaro. Reginaldo Lopes observou que o salário mínimo não teve ganho real com Bolsonaro e “hoje sequer compra uma cesta básica” . E completou: “Esse governo está enganando o povo brasileiro. É uma PEC do estelionatário eleitoral, da tentativa (de enganar), porque o povo brasileiro é inteligente e não aceitará essa ameaça, porque nós vamos derrotá-lo”. Lopes lamentou o fato de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não ter tido “coragem de apreciar nenhum dos mais de cem pedidos de impeachment” protocolados na Casa por causa de diferentes tipos de crime cometidos pelo capitão presidente.

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Atalho

Por Virgilio Almansur Um congresso hediondo! Submetido à ordem eleitoreira, nossos representantes se igualam. E não venham me dizer que a exceção na câmara alta foi corajosa como alguns articulistas aventaram. Não! A “exceção” ali foi conveniência de quem já não mais aspira nada e, se assim não fosse, faria o mesmo discursinho dessa oposição medíocre e indecente. Logo, logo, na Folha de São Paulo, Janio de Freitas dirá algo como o que é favorecer a situação com bilhões e que isso foi também o que o senado, dirigido por um mamulengo irresponsável fez: ladroagem eleitoral! O caminho adotado a 90 dias das eleições, já sob conturbadas manifestações explicitamente antidemocráticas, abre uma fenda de possibilidades “emergenciais”; como aquela que impôs tutela na segurança do Rio de Janeiro com a figura abjeta e abstrusa de mais um brega do inglório exército. O expediente com ares de emenda a projetar uma constituição sob suturas, traduz a nossa medianidade e suas características abomináveis; em especial, a dessa política que se mistura às feições fascistóides. Triste notar que essas abominações nos tornam reféns de uma ética presumidamente violenta e que aponta à confecção de pretensas ideologias sob cognição precária. A má fé nos contempla! No entanto, aquela trilogia de Marilena Chauí estava presente em nossos representantes medianos. O componente fascista, a violência e a ignorância. Somos aquilo ali! De cabo a rabo! Quê esquerda é essa que vota por um golpe emergencial? Esteve também às portas de outro golpe parlamentar há seis anos? Se não manifestos, latentes? Há um contra-ardil nessa empreitada! O atalho que se abre a outras investidas encontrará ressonância. O tiro-no-pé eleitoral no projeto eleitoreiro bandido abre flanco enorme a outras “emergências” se tomadas como respostas às “convulsões”. O galo cantou na Ucrânia como pode cantar no Chile, Colômbia, Peru. Nessa geopolítica de “aproximações” para evento social beneficente, nada obstará esse desgoverno, lamentavelmente apoiado por uma oposição vagabunda, intentar contra “valores democráticos” consagrados como as eleições. Se imaginarmos a construção de eventos secretos e dirigidos, que contemplaram parcela significativa de parlamentares, quem sabe já estejamos sob indecência esmolar atenuadora. Um aqui agora impensável de nossos políticos cujo corporativismo tende a ocorrer, aponta para um certame de proporções impensáveis em 02/10/22. Outubro contará com candidatos tendentes à repetição desse congresso ignominioso. Será um evento desproporcional, cujas chances estarão pendentes às reeleições. A grana que perpassa sob secretude é sintoma de que ali o resultado tem mais fundamento do que o processo em si na construção política. Remendos são todos os que apareceram no horizonte de nosso parlamento nesses dias em que máscaras caíram. São de ordem corrupta! É a banalização da lei sem correspondência legítima, mesmo que legiforme. A corrupção toma corpo nos interstícios legais anulando qualquer manifestação de responsabilidade. A irresponsabilidade é tanta, que reverter danos ao próximo governo aponta uma oposição (parte) sem compromissos de longo alcance quando não é impossível, esta mesma oposição, estar na situação em 23. Mas não fiquemos tão somente com essas lambanças. Termino aqui com as palavras de Janio a suscitar uma reflexão: “situacionista ou oposicionista, quem votou no Senado e quem votar na Câmara pela emenda que derruba a proibição de gastos eleitoreiros nos 90 dias antes da eleição — fundamento das regras anticorrupção eleitoral —, não está dando um voto. Está contribuindo para a permanência dos assediadores de mulheres, a já prometida liberação geral do porte de arma, as milícias, o desmatamento e as extrações ilegais da Amazônia, o garimpo e o contrabando, os cortes de verbas da saúde e da educação, a repressão à cultura, os privilégios a militares e policiais, o racismo e variadas fobias desumanas.” Não dá para dormir com essas imundícies!   Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.

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E o dinheiro apareceu

Assim, de um momento para o outro, a impossibilidade de realizar despesas acima do previsto some do circuito   Por Paulo Kliass   Foto: Valter Campanato/Agência Brasil   Há muito tempo que as propostas de retomada de um programa nacional de desenvolvimento econômico e social vêm sendo bombardeadas pelo núcleo do financismo em nossas terras. Os argumentos para justificar esse boicote criminoso podem variar segundo a conjuntura, mas invariavelmente remetem a uma visão ideologizada das alternativas para superação desta nossa crise de natureza quase estrutural, onde a tendência à estagnação das atividades teria os contornos de uma punição divina, uma penitência inescapável por pecados pregressos. A esse respeito, as vozes do conservadorismo já se manifestaram de todas as formas possíveis e imagináveis. Já se disse que o desenho aprovado pelos constituintes em 1988 seria inviável em um país chamado Brasil. Já se disse que as obrigações ali previstas no esboço de uma sociedade de bem-estar social, ainda que capenga, não poderiam ser levadas a efeito. Já se disse que o modelo de organização social da Constituição não cabe no Orçamento. Já se disse que todos os males que nos assolam derivam de um excesso de Estado e que a solução é caminhar no sentido de reduzi-lo ao máximo, por meio de privatização e desmonte das políticas públicas. Leia também: Preço dos combustíveis é opção consciente de Bolsonaro Todos os dias os grandes meios de comunicação anunciam uma nova catástrofe a surgir com toda a certeza no horizonte, caso as medidas ditas de “populismo” não sejam imediatamente descartadas do cardápio em discussão nesse momento pré-eleitoral. O foco permanece sendo o agarrar-se de forma rígida aos cânones da austeridade fiscal portadora de recessão e do reforço da desigualdade. Para dar cabo de tal tarefa, promove-se uma sólida aliança entre os ocupantes de postos estratégicos no comando da economia no interior da administração pública e os representantes diretos dos interesses do sistema financeiro tupiniquim. Além disso, também por aqui alguns pseudo intelectuais do campo do conservadorismo persistem em não se deixar atualizar pelas novidades que seus homólogos do Hemisfério Norte aportaram ao seu campo de conhecimento a partir das crises de 2008/9 e desta mais recente da covid 19. Guedes: austeridade fiscal a todo custo. Frente a tantos argumentos sólidos em prol da mudança e face à gritante exigência da realidade, eles se recolhem ao contorcionismo retórico da inexistência de espaço orçamentário ou da defesa vigarista da institucionalidade austericida das regras da “responsabilidade fiscal”. Tudo se resume a frases como “não temos recursos” ou “não podemos desrespeitar o teto de gastos” ou “se fizermos, o Brasil quebra”. Ocorre que tal defesa intransigente da opção tão grata à ortodoxia termina por esbarrar, em alguns momentos, nas necessidades emergenciais do aprofundamento ainda mais dramático da crise social. Assim foi durante o ano de 2020, quando as exigências de enfrentamento da pandemia falaram mais alto do que o discurso assassino de Guedes & Bolsonaro. À época, a oposição sugeriu elevar o auxílio emergencial para enfrentar a crise econômica, social e sanitária. O governo propunha uma única prestação de R$ 100 e o Congresso Nacional terminou aprovando um valor de R$ 300 que se estendeu por vários meses. Além disso, por mais irresponsável e negacionista que tenha sido a postura do governo, as despesas com saúde e assistência social tiveram de ser aumentadas em 2020 e 2021. Assim, os registros do déficit fiscal ao longo do biênio foram de, respectivamente, R$ 743 e R$ 35 bilhões. E nem por isso o Brasil quebrou. Encontrou-se uma artimanha jurídica para o governo escapar da acusação de crime de responsabilidade, por meio da decretação do “estado de calamidade”. Assim, as despesas não provocariam a superação do tão temido quanto respeitado teto de gastos. A situação se repete agora, às vésperas das eleições. Bolsonaro finalmente parece ter se convencido de que as pesquisas de opinião – sim, aquelas que colocam Lula como franco favorável no pleito de outubro – deveriam ser levadas um pouco mais a sério. Assim, o presidente deixou-se embalar pelos cânticos de Centrão e deixou a excessiva preocupação de Guedes com o respeito à austeridade um pouco de lado. A opção da aliança do núcleo duro do bolsonarismo com a nata do fisiologismo pariu a chamada “PEC do desespero”. Trata-se de um conjunto de medidas destinadas a amenizar os efeitos desastrosos da política de preços da Petrobrás sobre determinados setores. E também restabelece um auxílio emergencial, inspirado nos programas de transferência de renda dos governos do PT. Vejamos o que Bolsonaro dizia dos mesmos quando era deputado federal. Bolsonaro antes e depois: oportunismo a toda prova. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil (…) “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder. Ou seja, quem está no poder, ao brigar por educação e pelo fim da miséria, deixará de ter votos de miseráveis. E nós devemos colocar, se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família“ (…) – Bolsonaro, 2011. Apesar do caráter escandalosamente eleitoreira das atuais propostas, a sua provável aprovação pelos parlamentares das duas casas legislativas demonstra aquilo que os economistas de oposição já vínhamos apontando há muito tempo. Os recursos existem e deveriam, sim, ser gastos com políticas públicas necessárias e adequadas. Foi necessário que o desespero eleitoral batesse mais forte no núcleo autenticamente bolsonarista do Planalto e que os instintos da voracidade do fisiologismo centronino dessem a linha para que o extremismo austericida de Paulo Guedes mais uma vez fosse derrotado internamente no governo. (…) “Devemos discutir aqui a questão do Bolsa Família. Devemos colocar um fim, uma transição para o Bolsa Família, porque, cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem Bolsa Família, tornam-se eleitores de cabresto do PT” (…) – Bolsonaro, 2011. (…) “Os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo” (…) Guedes, 2019 Existem recursos: o dinheiro apareceu. Os efeitos prejudiciais da política

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