Construir Resistência

25 de março de 2022

E agora, Rio? Um estado em busca de um autor [1]

CIÊNCIA POLÍTICA Por Marly Motta Mais do que em qualquer outro estado da federação, a chamada cultura pemedebista, cuja origem estaria na estrondosa vitória do PMDB nas eleições para a Assembléia Constituinte, em 1986, aqui fixou raízes. Segundo o cientista político Marcos Nobre,[2] algumas das características dessa cultura teriam marcado a Constituição de 1988, e modelado o sistema político brasileiro a partir de então. A pedra de toque explicativa é a decantada governabilidade, entendida como a necessidade de o Executivo garantir super-maiorias parlamentares para que possa exercer, de fato, os poderes constitucionais a ele conferidos. No lugar do confronto governistas x oposicionistas, característico das democracias consolidadas, prevaleceu a conciliação garantida pela força do tratoraço da chamada “base governista” sobre as oposições. A tão festejada estabilidade da política fluminense, conquistada sobretudo ao longo dos dois mandatos da dupla formada pelo governador Sergio Cabral e pelo presidente da Alerj, Jorge Picciani (2007-14), foi levada de roldão pela Lava Jato, a qual inflamou o desejo da sociedade de, ao mesmo tempo, “punir os corruptos”, e “eleger não-políticos acima de qualquer suspeita”. A eleição do desconhecido juiz Wilson Witzel em 2018 não correspondeu, no entanto, a esses anseios do eleitorado fluminense. Ao contrário. Primeiro governador fluminense a sofrer um processo de impeachment, deixou evidente sua fragilidade política ao não receber sequer um voto favorável na Alerj. Onde foi parar aquela tradicional relação entre o Legislativo e o Executivo baseada em interesses mútuos, no famoso “dando que se recebe”? São muitos os aspirantes à tarefa de reorganizar e estabilizar a outrora organizada e estabilizada política fluminense. À frente do grupo dos novatos, encontra-se o governador Claudio Castro. Quem é ele? Eleito na chapa de Witzel, Castro viu cair em seu colo o governo de um estado que está, desde então, à procura de um autor capaz de escrever um enredo para esses novos tempos da política fluminense. Jovem, membro da Renovação Carismática Católica, cantor e compositor de repertório religioso, começou sua carreira no Legislativo municipal em 2004, como chefe de gabinete do vereador católico – e também cantor gospel – Marcio Pacheco (PSC). Em 2016, foi eleito vereador pelo PSC e, dois anos depois, compôs com Witzel uma chapa ao governo estadual pouco conhecida do distinto público. Dizem que ele preparava o discurso com que voltaria a assumir seu mandato de vereador, quando a dupla ganhou a eleição, e Castro se viu no cargo de vice-governador. Esta seria a primeira surpresa na vida política do dublê de cantor-vereador, logo suplantada pela inesperada ascensão ao cargo de governador em função do afastamento de Witzel. De baixo perfil, com fama de habilidoso e conciliador, Castro seguiu a cartilha do “pato novo em lago profundo” e, malgrado a ruptura de Witzel com o Planalto, procurou se aproximar do senador Flavio Bolsonaro, evitando seguir o mesmo destino que o anterior titular do cargo. Ciente da corda bamba em que se encontra, Castro adotou a máxima do pemedebismo, e rapidamente se entrosou com o presidente da Alerj, o petista André Ceciliano. Ainda na linha da fortuna, seguindo Maquiavel, Castro se viu dono dos recursos milionários oriundos da venda da Cedae. Resta saber se ele possui virtú para transformar esse capital em votos…. Quem é André Ceciliano que, apesar da pequena bancada do PT, alçou, em 2017, ao cargo estratégico de presidente da Alerj? Oriundo de Paracambi, cidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, conquistou seu primeiro mandato na Alerj em 1998, e logo ascendeu à posição de terceiro vice-presidente da Mesa Diretora para o biênio 1999/2000. Sinalizando uma crescente tendência de voto para o PT, Ceciliano derrotou o candidato governista (PMDB) na eleição para a prefeitura do município de Paracambi. Sua reeleição, em 2004, foi garantida mediante a cassação do então empossado Flavio Campos Ferreira. Derrotado na eleição para o município vizinho de Japeri (2008), voltou para a Alerj, onde se encontra desde 2011, ao longo de três mandatos. Essa experiência parlamentar e o bom relacionamento com deputados de vários partidos permitiram que o petista galgasse, sucessivamente, a segunda vice-presidência (2015-16), a vice-presidência no biênio seguinte, e a presidência da Alerj a partir de 2017 por ocasião da licença e da prisão de Jorge Picciani. Em 2019, foi reconduzido à presidência da Casa pelos seus pares. Parece que seu projeto para 22 será conquistar a indicação para única cadeira vaga para o Senado e que, por isso mesmo, será arduamente disputada, sobretudo dentro das hostes partidárias do PT do Rio, presidido por Washington Quaquá. A ver… É certo que a pandemia complicou as articulações em curso na política fluminense, mas não impede que elas se coloquem na mesa de jogo. As incertezas são grandes em um campo tão fragmentado e carente de lideranças solidamente testadas em situações de estresse político. Temos um grupo instalado na política carioca e fluminense, comandado por Eduardo Paes, Rodrigo e César Maia e seu entorno antes ligado ao DEM-RJ, mas que tem certa dificuldade em navegar nos mares, agora revoltos, da política estadual, até então pacificados pelo PMDB. Quadro antigo do DEM-RJ, de onde foi “saído” após desentendimento com ACM Neto, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ainda não definiu seu novo partido, mas trocou de área de atuação política: a convite do governador paulista, João Doria, assumiu a pasta de Projetos e Ações Estratégicas. Perguntado sobre seu futuro eleitoral, disse que se candidataria a mais um novo mandato de deputado federal pelo Rio de Janeiro. E completou: “Para o Rio de Janeiro, é uma demonstração de que sou um quadro importante da política nacional. É óbvio que o carioca, que sempre teve uma visão importante de Brasil, vai compreender”.[3] A conferir… Já Paes, ao trocar o DEM pelo PSD de Gilberto Kassab, se engajou na campanha a governador de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB nacional. Ostentando em sua trajetória política apenas uma candidatura frustrada a vereador pelo PT nas eleições de 2004, Santa Cruz tem uma atuação corporativa e institucional: de 2013 a 2018, foi presidente da OAB-RJ e, no

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“Casas devem dar dignidade para as pessoas morarem”, diz Lula em evento do MTST

Por Lula.com.br   No dia em que se comemora o 13º aniversário do Minha Casa Minha Vida, o ex-presidente Lula, que lançou o programa habitacional mais ousado da história do Brasil, em seu segundo mandato, ressaltou a importância do acesso à moradia para famílias de baixa renda, com unidades que deem condições de viver com dignidade. “As casas feitas devem dar dignidade para as pessoas viverem. É preciso respeitar o ser humano independentemente da origem social”, disse em visita aos condomínios Pinheirinho Novo e Santos Dias, construídos pelo Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), em Santo André (SP), com recursos do Minha Casa Minha Vida. Lula elogiou o trabalho do MTST, que projetou unidades de 54 metros quadrados com varanda e lazer para 901 famílias, e disse que o movimento, com a autogestão, possivelmente, tem condições de fazer casas melhores e mais baratas do que as empresas faziam. O ex-presidente contou que, entre 2009 e 2016, quando a ex-presidenta Dilma Rousseff deixou o governo, após o golpe do impeachment, foram contratadas 4,2 milhões de unidades do Minha Casa Minha Vida, das quais 2,7 milhões entregues nas gestões dele e dela. Até dezembro de 2010, último mês do segundo mandato de Lula, um milhão de unidades tinham sido contratadas. Segundo ele, nos governos do PT, o MCMV beneficiou dez milhões de família em 96% dos municípios brasileiros. Metade das unidades atendeu famílias com renda de até R$ 1,8 mil. Entre as famílias de baixa renda, 46% eram beneficiárias do bolsa família, mais da metade não tinha o ensino fundamental completo e a renda familiar era de até R$ 600 reais. Além disso, o Minha Casa Minha Vida alavancou montante de R$ 300 bilhões em investimentos e gerou 1,2 milhão de empregos diretos e 500 mil indiretos. Segundo o ex-presidente, 49% dos recursos investidos retornaram aos cofres públicos. “Embora os números sejam gigantescos para a tradição do Brasil, que nunca foi de fazer muita casa para o povo, a gente, tanto o meu governo quanto o da Dilma, não conseguiu fazer tudo o que poderia ser feito”, disse ressaltando a necessidade de continuidade do programa para atender a um universo de quase cinco milhões de pessoas que ainda não têm casa. Acompanhado do ex-ministro Fernando Haddad e do coordenador do MTST, Guilherme Boulos, Lula lembrou de fase da vida em que morou numa casa de 33 metros quadrados, com dona Marisa Letícia, três filhos, a sogra e uma cachorra. “Eu morei mais de dez anos na casa de 33 metros quadrados e eu já andava com a canela roxa de tanto bater porque, se abria a geladeira, não cabia eu e a Marisa dentro. Abria a porta do guarda-roupa, batia no espelho da cama. Eu sei que é duro morar (…) Eles acham que os pobres sempre aceitam o resto. Mas nós não queremos o osso, queremos nossos direitos”. Haddad disse que o PT colocou na agenda do país o óbvio que é o acesso a educação, trabalho, terra, comida e moradia, lamentou o retrocesso com o atual governo e defendeu a necessidade de reconstrução do Brasil. “Enquanto tiver um brasileiro sem teto, com fome e sem educação estaremos nas ruas na luta pelos direitos sociais desse país”. Guilherme Boulos lembrou o MTST completa 25 anos em 2022. Segundo ele, o condomínio construído pelo movimento é exemplo do que é a potência do movimento social e a potência do povo organizado. Ele defendeu a volta do PT ao poder para que novas moradias sejam construídas. “Esperamos, a partir do ano que vem, que a gente possa também fazer com que outras pessoas tenham a mesma alegria de quem recebeu casa no Pinheirinho”.    

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Governador do Rio de Janeiro cria escolas cívico-militares com fins eleitoreiros

Por Sonia Castro Lopes Em uma decisão autocrática, por meio de uma canetada, o governador do Rio de Janeiro, Sr. Claudio Castro, quer transformar as escolas públicas da Rede FAETEC em escolas cívico-militares. O decreto nº 48.003 de 23 de março de 2022 instituiu o Programa Escolas Técnicas Cívico-Militares nas instituições de ensino da rede Faetec por meio de parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia, a Secretaria da Polícia Militar e a Secretaria de Defesa Civil e Corpo de Bombeiros. A rede Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) é uma instituição pública fluminense de ensino técnico criada em 1997 e congrega instituições de ensino profissional em todo o Estado do Rio, inclusive mantém alguns cursos superiores como, por exemplo, o curso de pedagogia do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (o lendário e tradicional Instituto de Educacional dos anos dourados) – atual ISERJ e o Instituto Superior de Educação de Campos (ISEPAM). Profundamente interessado em obter apoio do governo federal à sua candidatura para reeleger-se governador do Estado, o Sr. Cláudio Castro toma uma atitude arbitrária sem consultar especialistas da área acadêmica e muito menos – e mais importante – as comunidades escolares compostas por professores, alunos e demais profissionais do ensino. A rede Faetec tem passado por dificuldades imensas herdadas de governos anteriores e ao invés de investir na melhoria dessas escolas, o governador decreta essa medida autoritária para demonstrar ao ‘chefe’ sua subserviência. Todos sabem do apreço do atual presidente ao projeto das escolas cívico-militares, em sua opinião, modelos de qualidade e excelência de ensino. Ora, a  história nos mostra como a escola foi utilizada por governos autoritários para incutir em crianças e jovens sentimentos e condutas que se enraizaram, como por exemplo, a meritocracia, a hierarquia, a disciplina, a maneira de pensar e agir de forma muitas vezes preconceituosa e excludente. A escola, o quartel e a igreja são espaços onde, muitas vezes, inexiste a tolerância e o respeito às diferenças. Poderão ser responsáveis, portanto, pela naturalização de comportamentos de ódio, racismo, xenofobia, sexismo, homofobia e outros tantos que se encontram estruturados numa sociedade de passado escravocrata, oligárquico e autoritário como a nossa. Ainda em 2019, no lançamento do Programa dessas escolas, o presidente atribuiu à democratização do ensino a causa das mazelas do ensino público no país. Utilizando-se de discurso análogo, o ministro da educação à época, Abraham Weintraub, afirmou que as escolas cívico-militares seriam uma forma de homogeneizar o ensino, indo, na contramão de tudo o que prega a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996) sobre a educação no país. Parece que a luta  travada desde ontem por parlamentares da ALERJ – destacando-se os deputados Flavio Serafini (PSOL) e  Waldeck Carneiro (PSDB), além do posicionamento contrário dos profissionais de educação da Rede Faetec  – conseguiu contornar parcialmente o problema. Soube-se agora que o artigo 2º do Decreto foi alterado e apenas as escolas da Faetec que vierem a ser inauguradas obedecerão a essa regra. De acordo com a nova redação dada ao artigo  “Para a implementação do Programa serão consideradas as instituições criadas e autorizadas no modelo cívico-militar.” De qualquer forma, não admitiremos retrocessos. As lutas pela democratização da educação avançaram de forma consistente com a promulgação da CF e da atual LDBEN, possibilitando a inclusão de um sem número de indivíduos ao espaço escolar. A escola tornou-se um espaço que deve acolher a diversidade, um espaço no qual idéias diferentes podem circular e conviver através do diálogo. O Programa das Escolas cívico-militares vai justamente na contramão desses princípios quando defende um ensino padronizado, homogeneizante, acrítico em nome de uma formação sólida em termos morais e pedagógicos para os filhos dos ‘cidadãos de bem.’ Os defensores do projeto argumentam que o mesmo possibilita ‘resgatar os valores da pátria e da família.’ A bandeira de uma escola pública, gratuita, obrigatória e universal foi defendida pelos Pioneiros da Educação Nova em seu Manifesto à Nação em março de 1932. Hoje, noventa anos depois esses princípios encontram-se ameaçados. Uma escola universal é para todos e não apenas para uns poucos que desejam ver seus filhos alinhados aos valores de uma pauta conservadora e retrógrada.  

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O que você está esperando, Márcio França?

Por Simão Zygband   As redes sociais têm criado grandes especialistas em tudo: estrategistas políticos com palpites sobre as eleições de outubro, política internacional com a guerra entre Rússia e Ucrânia e técnicos de futebol para definir qual estratégias o treinador tem para o seu time predileto. Também tento me aventurar nas coisas da política, pois dar palpite na vida alheia e naquilo que se supõe o caminho certo é uma das maiores práticas do mundo moderno virtual. Não paga nada e o pior que pode ocorrer é vários leitores não gostar das suas opiniões. Não dói nada e a vida segue normal. Bem. Vou colocar minha colher enferrujada neste tema tão importante para a disputa eleitoral paulista. Não entendo por que o ex-governador Márcio França ainda não abriu mão de sua candidatura para apoiar Haddad. Possivelmente é uma posição de seu partido, mas esta insistência com a candidatura dele a governador pode ocasionar perdas significativas. Ser senador por São Paulo é um orgulho para qualquer político. No acordo do PSB com o PT em São Paulo, França deveria (na opinião dos petistas) sair candidato ao Senado, deixando o espaço de disputa livre para Fernando Haddad, que lidera as pesquisas de opinião de votos. O próprio França já aventou a hipótese de que o pior colocado entre o candidato do PT e do PSB deveria renunciar a favor do outro. Claro que pesquisas são reflexos de momento político e tudo pode mudar, inclusive nas eleições paulistas, onde, de fato, tudo pode acontecer. Mas é incompreensível, na minha opinião, que França mantenha sua candidatura tendo a grande chance de se eleger senador por São Paulo. Claro que nada neste estado é uma barbada, com o complicador de só poder desta vez eleger um único senador. França deveria sim retirar a sua candidatura para tentar o Senado. Desta vez, ao contrário da eleição de 2018, onde parte do eleitorado petista rachou e fez voto útil para ele ir ao segundo turno, terá integralmente os votos do PT para senador, além de todos os da frente de oposição ao bolsonarismo no estado de São Paulo. O ex-governador foi empurrado pelo voto rachado do PT para o segundo turno contra João Doria, e só não venceu a disputa pois o tucano colou sua imagem em Bolsonaro enquanto França não conseguiu se desvencilhar da pecha de ter trabalhado com Lula, que ainda estava preso ilegalmente, fruto da perseguição política armada pelos golpistas através do juiz fraudulento, Sérgio Moro. O ex-presidente tinha, na ocasião, forte rejeição, construída pela mídia hegemônica, aliada e articuladora do golpe. Mas isso a história se incumbiu de dissipar. Com todo o respeito, França deve seguir o exemplo de Guilherme Boulos, do PSOL, e renunciar à sua candidatura a governador. Claro, tudo na política é um tiro no escuro, mas dificilmente, caso não se eleja para o Senado, será esquecido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com grandes chances de se eleger. É inegável que ser senador é motivo de orgulho para qualquer político, pois, além de tudo, proporciona um mandato automático de 8 anos. Márcio França foi um dos articuladores, junto com Fernando Haddad, da costura política que levou o ex-governador Geraldo Alckmin a se filiar ao PSB e se credenciar para ser o candidato a vice-presidente na chapa do Lula. Com certeza este movimento não será em vão. O que você está esperando, Márcio França?    

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