Construir Resistência

23 de janeiro de 2022

racismo

A delicada questão do racismo

Por Simão Zygband   Desde que me conheço por gente faz parte da minha vida, mesmo que de forma não explícita na minha cabeça, a questão do racismo. Como filho de pai e mãe, de avós, bisavós e tataravós judeus, não me restou muita alternativa a não ser assumir minha identidade judaica. Durante anos procurei negar esta ascendência para não me sentir diferente dos meninos e meninas que conviviam comigo. Afinal, sou um judeu brasileiro, que enfrenta exatamente todos os conflitos dos demais. Não queria em nada ser diferente deles. Criei-me no Bom Retiro, em São Paulo, onde havia grande concentração judaica e brincava na rua com todo tipo de gente, uma verdadeira torre de babel, onde todas as raças e religiões se misturavam. Vi no meu bairro, judeus ortodoxos usando suas vestimentas tradicionais para irem à sinagoga, com suas roupas pretas e chapéus de pele em pleno verão de 40 graus, exibindo seus “peiars”, umas tranças típicas que vertem detrás das orelhas. Os filhos deles, de fato, não se misturavam e não brincavam com a gente na rua. Tudo bem, cada um com suas tradições e manias. Um dos motivos de ter me relacionado com qualquer garoto e jovem sem distinção é por que em casa havia uma geleia geral brasileira, com uma diversidade importante: meu pai era sobrevivente do holocausto, comunista e ateu e minha mãe judia brasileira do interior de São Paulo, praticante do espiritismo kardecista. Ela era mediúnica e recebia “entidades” na minha casa, onde havia sessões espíritas. Veja quantas contradições. Meu pai a ironizava e dizia que ela recebia “alminhas”. Mas conviveram harmonicamente, apesar das diferenças. Convivi com todas estas contradições e nunca me casei com uma judia e namorei poucas delas (se é que namorei alguma). Relacionei-me com aquelas das quais eu gostei (e elas de mim), independente de raça, credo ou religião. Hoje me deparo com estas questões que para mim são verdadeiros horrores, consideradas “identitárias”. Não sei exatamente o que significa, mas detesto alguns tipos “lacrações”. Elas, em geral, são divisionistas e enfraquecem a luta popular coletiva. Mas as redes sociais (e não só elas) deram espaço para que pessoas vociferem qualquer bobagem de cunho racista, machista, misóginas, regadas de intolerância. E, o pior, não é só na direita fascista. Veja o que falou a ativista, supostamente de esquerda, Lucia Helena Issa, na TV247 no dia 20 de janeiro, onde expôs uma versão bem pouco elaborada de antissemitismo. É o que relata o grupo Judeus pela Democracia, do qual faço parte como mero participante: “Na live, intitulada “tráfico de mulheres brasileiras para Israel”, ela faz comentários conspiracionistas e revisionistas, diz que a comunidade judaica carioca fez tráfico de prostitutas, faz referência a Israel como paraíso mundial dos pedófilos, ainda dizendo que Israel é a “Terra prometida de pedófilos”, implicou que os judeus encobrem os crimes de judeus, disse que judeus não são condenados porque são ricos, saem sempre livres dos seus crimes, falou que Bolsonaro é financiado por judeus brasileiros, argentinos, israelenses, chamou todos os judeus de covardes e acusou a todos de vitimismo. Também afirmou que o sionismo tem ligação e é primo-irmão do nazismo, entre outros absurdos inacreditáveis”. E continuou: “é extremamente infeliz e, com o sinal invertido, faz coro com a extrema-direita na imagem que se pinta dos judeus e de Israel: o Judeu e Israel imaginários. Ao divulgar uma live como esta, a TV247 acaba fazendo o mesmo papel que a Folha faz ao repercutir o texto racista de Antonio Risério. Se a esquerda pretende lutar ao lado das minorias, isso precisa ser feito por TODAS elas”. O caso Antonio Risério No domingo, dia 16, o antropólogo e poeta Antonio Risério quis propor um debate na Folha de S.Paulo: não estariam alguns ideólogos do movimento antirracista e a própria mídia indo longe demais em sua vista grossa a casos de hostilidade de negros contra brancos e, com isso, em vez de combater o racismo, ajudando a ensejar novos tipos de conflitos entre grupos raciais? O antropólogo Risério disse haver um tipo de “racismo reverso”, dos negros em relação aos brancos e esta formulação foi alvo de uma tempestade de protestos, inclusive de 200 jornalistas da própria Folha, que elaboraram um documento criticando a publicação do artigo, assim como outros que eles consideram de cunho racista. “Risério merece o mesmo tratamento que os defensores da cloroquina”, disse o escritor Itamar Vieira Júnior ao jornal Estado de Minas. “Nunca houve no Brasil negros com poder oprimindo brancos. Afirmar o contrário, com anedotas, é desonesto na medida em que é cruel”, criticou o jurista Thiago Amparo, que também é colunista da Folha, em um tuíte com dezenas de milhares de curtidas. Desde a eleição de Donald Trump, Jair Bolsonaro e de todos estes fascistas é que a intolerância racial voltou com força. A antropóloga Adriana Dias identificou a ação de 530 células neonazistas no país. Ela é uma das maiores estudiosas do surgimento destes grupos de intolerantes no Brasil. Eles não gostam nem dos negros, tampouco dos judeus e dos homossexuais. São tempos perigosos que a insatisfação popular, sobretudo a dos ignorantes, acaba explodindo em intolerância. É necessário estar atento e denunciar todo aquele que prega o racismo, seja ele na forma que se manifeste. Intolerância nunca mais!    

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Brasil brasileiro

Por Luiz Eduardo Rezende Frederik Wassef, advogado da família Bolsonaro e do Queiroz, conseguiu na Justiça a liberação da madeira extraída irregularmente da floresta Amazônica, apreendida pela polícia federal durante a gestão do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Trata-se da maior apreensão de madeira irregular da história, retirada para ser vendida no exterior, com o conhecimento e a anuência de Salles. Os madeireiros que lucram barbaridades com essa atividade estão rindo de orelha a orelha. Não se sabe o motivo, mas a Justiça acaba de premiar a fraude, a ilegalidade, e a estimular a devastação da floresta. Esse tipo de decisão torna o Brasil ainda mais desmoralizado no exterior. O Fundo Amazônico foi cortado e muitos países estão deixando de investir aqui por causa da política de destruição do meio ambiente praticada pelo governo Bolsonaro. O país perde milhões de dólares por ano porque não preserva a floresta amazônica. Não preservar é uma coisa, mas destruir o meio ambiente e liberar madeira ilegal apreendida é outra muito mais grave. Faz lembrar a máxima: o que acontece no Brasil só fraude explica. PODEMOS OU NÃO PODEMOS? A candidatura de Sérgio Moro no Podemos foi da euforia à frustração em pouco tempo. Os integrantes do partido, principalmente candidatos a governadores ao parlamento nos estados, acreditaram que Moro ia disparar nas pesquisas e se firmar como representante da terceira via, o que significaria a eleição de uma forte bancada na Câmara dos Deputados e também uma participação expressiva do partido nas assembleias legislativas. Aos poucos, a candidatura foi esmaecendo, empacou em torno dos dois dígitos e o sonho de desbancar a polarização Lula-Bolsonaro se mostrou inviável. Começaram, então, as manifestações de insatisfação, que rapidamente se transformaram numa espécie de rebelião. Especialmente no nordeste, muitos defendem a renúncia do ex-ministro e o apoio do Podemos ao ex-presidente Lula. A crise chegou a tal ponto que Moro já está pensando em sair do Podemos e se filiar ao União Brasil, o novo partido resultante da fusão do DEM com o PSL. TAREFA INGRATA O marqueteiro João Santana, aquele mesmo que transformou Lula de político radical em Lulinha Paz e Amor, não está mais prestando serviços ao PT. Agora livre, depois de preso por envolvimento em várias maracutaias, volta à cena com uma tarefa bem difícil: transformar Ciro Gomes, o coronel de Sobral, de raivoso em rebelde. A marca de Ciro Gomes sempre foi a beligerância. Ele não sobrevive politicamente sem um inimigo para atacar. E ataca com violência, com palavras duras, às vezes até ofendendo. Agora mesmo, depois de mirar em Lula e Bolsonaro, apontou suas baterias para Sérgio Moro, que lhe tomou o terceiro lugar nas pesquisas e o possível favoritismo para ser a terceira via na eleição do ano que vem. No PDT tem gente defendendo a desistência de Ciro, mas a direção do partido pelo menos por enquanto não pensa assim. Manteve a candidatura e está à procura de um vice para compor a chapa. A primeira opção foi Marina Silva, da Rede, mas ela pelo menos publicamente sequer respondeu ao convite. A primeira e principal missão de João Santana nessa pré-campanha será conter os arroubos de Ciro Gomes, a violência do discurso contra os adversários. Caso contrário ninguém com representatividade vai querer compor essa chapa e se submeter aos caprichos do candidato. Tarefa difícil João Santana, muito difícil. DELÍCIAS DO PODER O poder inebria e também engana. Muitas vezes quem ocupa se sente dono do mundo, esquecendo que as homenagens, os puxa-saquismos, são para o ocupante do cargo e não para a pessoa. Isso certamente está acontecendo com os militares que cercam o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Todos acham que podem se candidatar e se eleger para cargos majoritários. O general Braga Neto quer ser vice de Bolsonaro, disputa a indicação com a ministra Teresa Cristina. Os também generais Heleno e Pazzuello pretendem ser candidatos a governador ou a senador. E o vice Mourão tem pretensão de ser senador ou governador. Esses militares são tão sem noção de política que definiram os cargos que desejam ocupar, mas não sabem por qual estado se candidatarão. Bolsonaro, que não é amigo de ninguém, deixa que sonhem. Se ganharem, ótimo. Se perderem, não fará a menor diferença para ele. O único general que o presidente não gostaria de ver no Congresso Nacional é Santos Cruz, que saiu do governo atirando e se tornou um ferrenho opositor de Bolsonaro. Mas tudo indica que desse mal o presidente não morre, não! AVENTUREIROS DO IPIRANGA Jair Bolsonaro tem São Paulo atravessado na garganta. Os principais candidatos ao governo do estado são de oposição a ele. Logo no maior colégio eleitoral do país. Haddad, Márcio França e Dória certamente vão detonar o governo federal na campanha, principalmente em relação ao negacionismo do presidente. Precisando desesperadamente de um palanque Bolsonaro convenceu o ministro Tarcísio Gomes de Freitas a ser candidato a governador e está quase convencendo o ex-ministro Ricardo Salles a ser vice. Para completar a chapa, convidou a ministra Damares Alves, aquela que disse ter visto Jesus Cristo na goiabeira, para ser candidata ao senado. Bolsonaro sabe que essa chapa não tem a menor chance de ganhar. E também que tanto Tarcísio quanto Salles poderiam ser eleitos deputados federais. Mas cobrou fidelidade aos dois. Quem tem amigo assim, não precisa de inimigo. SEM VACINA NÃO TEM BOLA A Austrália mostrou que é um país sério e não permitiu que o tenista número um do mundo, Novac Djokovic,  participasse do maior torneio promovido pelo país porque não estava vacinado. O governo francês também já avisou que sem vacina não joga Roland Garros. E o principal patrocinador do tenista anunciou que está decidindo se cancela o patrocínio. Olhem só que prejuízo o negacionismo provoca. Se ganhasse o Aberto da Austrália, o que seria muito provável, Djokovic ganharia só de prêmio pouco mais de R$ 17 milhões. Premiação muito semelhante à do Aberto da França, o charmoso Roland Garros. É claro que o tenista é milionário,

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