Construir Resistência

20 de agosto de 2021

Sociedade se organiza para defender biblioteca Monteiro Lobato

Por Simão Zygband Legenda da foto: Imagem da péssima conservação de livro raro de Monteiro Lobato   Depois da negligência do governo federal com a Cinemateca Brasileira, a sociedade civil decidiu ficar um pouco mais atenta com questões que envolvem o patrimônio histórico e a sua história e pretende fazer um ato simbólico na Biblioteca Monteiro Lobato, na Vila Buarque, em São Paulo.  Na segunda-feira (23), a partir das 10 horas, quando será reaberta ao público, a biblioteca, depois de mantida fechada por longo período por causa da pandemia de Covid-19, terá a presença de grupos que lutarão pela sua preservação.  Ela foi criada por Mario de Andrade, nos anos 1930  O movimento é encabeçado por um grupo denominado Amigos da Lobato, que reúne intelectuais, artistas, professores, bibliotecários, entre outros. Ele pretende realizar um ato para chamar atenção do perigo que corre o acervo de Monteiro Lobato existente naquele prédio. Também foi realizada nesta quinta-feira (20), como parte do movimento, uma audiência pública sobre a questão organizada pelo vereador Toninho Véspoli (PSOL). Recentemente circulou a informação de que a prefeitura, sob o comando do empresário Ricardo Nunes, do MDB, pretendia extinguir a Seção de Bibliografia e Documentação da biblioteca, que possui um riquíssimo acervo, patrimônio da cidade e do país, que documenta a história da Cultura Infantil Letrada.   Diante da repercussão do caso, não houve alternativa senão a prefeitura recuar de decisão polêmica, pois esta sessão é exatamente aquela cujos funcionários preservam minimamente o acervo de Monteiro Lobato. Eles seriam transferidos para outro local da municipalidade. Ricardo Nunes recebeu em audiência, no dia 17, a bisneta de Monteiro Lobato, Cléo. Junto a eles participou a vereadora Janaina Lima, do partido Novo, uma parlamentar que fazia parte como líder e porta-voz do movimento  “Vem pra Rua” que, entre outras proezas, ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro, de quem agora faz questão de se distanciar. O prefeito, que sequer convidou o secretário de Cultura Alexandre Youssef para a audiência (apesar das bibliotecas e equipamentos culturais estarem sob sua responsabilidade), se comprometeu a preservar o acervo, apesar desta informação sequer estar disponível na assessoria de imprensa da Prefeitura. Não há informações oficiais sobre o encontro. A única nota divulgada pela Prefeitura era que a extinção da Seção de Bibliografia e Documentação da biblioteca Monteiro Lobato era um “fake news” ou uma notícia fantasiosa. O problema é que uma ata da reunião que decidiu pelo encerramento dos trabalhos no setor vazou para as redes sociais e não somente constava a transferência dos funcionários, como também a sua “extinção”. Para piorar a situação, para amedrontar os funcionários da biblioteca Monteiro Lobato, a prefeitura, ao invés de vir a público explicar de que forma conseguiria recursos para preservar o acervo de Monteiro Lobato, que está em condições precárias, utilizou o jornal conservador O Estado de São Paulo para promover uma caça às bruxas. Com o título: “ Prefeitura vai investigar origem de informação sobre fim da sessão da biblioteca Monteiro Lobato”, a matéria diz que “A secretaria Municipal de Cultura de São Paulo instaurou procedimento legal interno para apurar como surgiu a informação de que a seção Bibliografia e Documentação da Biblioteca Monteiro Lobato seria extinta”. O prefeito Ricardo Nunes, que herdou o cargo com o falecimento do anterior, Bruno Covas, foi indicado vice pelo vereador Milton Leite, de seu partido, com o consentimento do governador João Doria (PSDB).  O temor é que, além de negligenciar o acervo, patrimônio histórico da infância brasileira, também se privatize a biblioteca ou mesmo se ponha à venda o terreno valioso onde ela está situada, no bairro central da Vila Buarque, em São Paulo. A luta pela biblioteca é de todos nós.        

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O presidente está acima da lei?

Construir Resistência recomenda uma leitura atenta, do artigo assinado por #Alfredo Attié, Presidente da #Academia Brasileira de Direito: Assim parece advogar a #PGR Tenho insistido em não apenas salientar o risco que a permanência do atual governo traz para o Estado Democrático de Direito, mas, sobretudo, em caracterizar, desde o início,[1] o regime que busca impor como regime anticonstitucional.[2] Essa caracterização também abrange o clima politico e jurídico que engendra, assim como uma série de atos e discursos de apoiadores, na sociedade civil e nas instituições públicas e privadas. O Presidente da República manifesta-se todos os dias contra a Constituição, ao mesmo tempo em que afirma, de modo hipócrita,[3] que se mantém “dentro de suas quatro linhas” (sic). Seus seguidores seguem a mesma receita, na ação e na omissão. Ministros fazem questão de pregar valores e atitudes anticonstitucionais. Um deles ofendeu o STF, em reunião ministerial e foi alçado a diretor de organismo internacional. Outro, sugeriu “passar a boiada” (sic), outro ainda dirigiu-se diretamente ao Congresso, manifestando sua opinião pelo voto impresso, seguida de ameaça de quebra da ordem constitucional. Houve, ainda, quem pregasse contra a ordem internacional dos direitos humanos, chamando-a de “globalismo” (sic), e quem empregasse normas não recepcionadas pela atual Constituição, para buscar punir liberdade de expressão. As políticas públicas, os direitos e os deveres atinentes ao trabalho, à seguridade social, que abrange a saúde, ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, seu cuidado e preservação, aos direitos humanos e dos vulneráveis e minorias, à erradicação da pobreza, à integração regional americana, sulamericana, latinoamericana, e internacional, para a promoção da paz e da justiça, para o desenvolvimento sustentável, para a proteção das famílias, dos indígenas, dos afrodescendentes, dos gêneros, da ciência, do empreendedorismo, enfim, tudo isso que decorre da Constituição e dos Tratados internacionais, estão em suspensão e postos em xeque, por uma concertação governamental que os nega e os deseja fazer minguar e extinguir. Esse regime anticonstitucional é, segundo defino, a recusa deliberada em cumprir normas constitucionais, inclusive seus valores e princípios, acompanhada de militante campanha, às vezes aberta e deliberada, outras, dissimulada, contra tais normas e valores. Um regime anticonstitucional se instaura sorrateiramente na ordem politico-jurídica, ou a invade, com a firme intenção de a desmoralizar. Esse regime mantém a letra da Constituição, mas nega seu fundamento e sua eficácia, desejando substituí-la por uma verdade que cria ou copia, cujos fundamentos são diversos, estranhos  e opostos aos que enuncia a Constituição. E faz fincar a eficácia do que faz e deixa de fazer em argumentos que não são aceitos, admitidos, sequer tolerados pela ordem constitucional. Esse regime anticonstitucional já se apresentou várias vezes na história da política e do direito, especialmente na grave crise de suspensão da ordem politico-jurídica havida no curso do século XX. Ali, ele se pôs como antessala de golpes, regimes autoritários e despóticos, assim auxiliando no engendramento de ordens totalitárias. Serviu também para dar cobertura a violência de Estado, que, em ditaduras abomináveis, perseguiu, censurou, expulsou, prendeu, torturou, sequestrou e matou, sem receio de mentir para esconder a nua crueldade e maquilar seu desprezo pela humanidade. Ao se colocar, de modo militante e obsessivo, contra a Constituição, esse regime não escolhe apenas adversários de ocasião, mas o próprio povo como antagonista. Ao fazer pouco caso da Constituição, inclusive, de modo irônico, tentando desfazer-se de seus fundamentos (as “quatro linhas” da pobre metáfora do futebol), ele procura quebrar os liames políticos que a Constituição representa, isto é, os liames de confiança entre os próprios membros da sociedade política, bem como os que devem existir entre o povo, suas instituições e aqueles que exercem as funções públicas. A antessala do totalitarismo sempre tem sido a quebra da corrente de representação. Observe-se que, por exemplo, ao ameaçar a eleição e ao pregar desrespeito à eleição, o que se deseja é gerar desconfiança no principal fundamento do princípio democrático, que é a soberania popular. Para que fique mais uma vez bem claro, a Constituição exige que haja representação política e que essa representação somente se legitime pela eleição livre, realizada com periodicidade. Fundamentalmente, a representação somente se legitima pelo voto. O liame entre o povo e representantes tem seu fundamento na afirmação de que o poder é exercido por pessoas eleitas. Disso decorre o fato simples da vida política de que, quem exerce função pública sem voto, deve cumprir seu dever por meio da obediência irrestrita às leis, criadas por quem recebeu o voto. E assim se deve compreender a importante função do Ministério Público, cuja atividade, tão prestigiada pelos constituintes, coloca-o como um das chaves-mestras do sistema constitucional brasileiro. A ordem penal depende da ação responsável do Ministério Público, portanto, a própria segurança e mesmo a justiça dependem de sua ação e de seu modo de agir. O mesmo se pode dizer, muito embora em escala mais atenuada, dos interesses coletivos e difusos, que têm na sociedade e nos grupos intermediários sua agência fundamental, mas na atuação responsável complementar do Ministério Público sua garantia efetiva. Entretanto, duas notícias chamaram a atenção da opinião pública, nos últimos dias. Falam de dois pareceres da Procuradoria-Geral da República, nos quais estariam sendo afirmadas duas questões que surpreendem a consideração jurídico-política, porque em confronto com esses princípios e deveres que devem reger a conduta desses que denomino de órgãos da legalidade, para os distinguir dos órgãos da legitimidade pelo voto. Ou seja, aqueles que apenas se devem colocar como a boca que pronuncia a prosa da lei, para recordar, numa tradução mais justa, uma fórmula importante, nos dias atuais olvidada, de um espírito engenhoso. Esses órgãos da legalidade são como seres inanimados, que não podem moderar nem a força nem o rigor da lei, acrescente-se. Pois bem. No caso, da prisão preventiva de um ex-deputado e ex-condenado criminalmente, o primeiro desses pareceres que referi teria afirmado que não se justificaria a prisão, que passaria por “cerceamento de liberdade de expressão” (sic), e não como prevenção contra ameaças feitas por quem teria exibido armas de fogo e lançado elogios a ditadura e ameaças contra a democracia, inclusive com ofensas a instituições fundamentais do Estado Democrático de

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Ainda sobre a arte ou as artes de se aposentar

Por Beatriz Herkenhoff com a colaboração de Desirée Cipriano Rabelo Muitos leitores dialogaram com minha última crônica sobre a arte de se aposentar. Alguns reforçaram a narrativa, como minha amiga Rosini que escreveu: “Texto maravilhoso! Concordo que a aposentadoria é uma ruptura, das maiores, que temos que fazer (…). Temos que despir de vaidades, do ego inflado que o poder de um cargo importante proporciona! Aposentar significa adquirir uma liberdade inimaginável. Tem que estar disposto a desenvolver uma intimidade com nosso próprio eu, achar que somos nossa melhor companhia (…)”. Outros identificaram lacunas no texto: “Você não falou sobre as pessoas que se aposentam e passam a cuidar dos netos ou dos pais idosos”. Ou: “você poderia ter falado daqueles que optam por continuar trabalhando, criam uma empresa, desenvolvem um trabalho de assessoria ou passam a exercer uma nova profissão”. “E nem dos aposentados que decidiram fazer uma experiência no exterior ou voltaram a estudar em universidades.” Conversei com minha amiga Desirée sobre as escolhas que fiz ao me aposentar. Por que não quis trabalhar como assessora ou em cursos de pós-graduação? Por que não me engajei em grupos de pesquisa na universidade? Por que não me vinculei a uma ONG para realização de um trabalho voluntário? Como disse, havia optado por ocupar meu tempo de aposentada viajando, namorando, dançando, desfilando em escola de samba, participando de eventos culturais (teatro, cinema, shows), de espaços de vivência da fé. Criando momentos de maior convivência com: crianças queridas, amigos, familiares, filho, nora, sobrinhas e afilhados. Desirée provocou-me: “Essa é a sua história – e que só se pode realizar devido à sua personalidade mas, também, porque você tem condições econômicas. Há um mundo de gente que nem sequer pode se aposentar. Ou, ao se aposentar, descobre que precisa continuar trabalhando para que as contas fechem ao final do mês”. Após longa conversa entre nós duas, decidimos escrever essa crônica, abrindo novos horizontes no processo de aposentadoria. Ou sejam há muitos jeitos de se aposentar. Os matizes variam desde aqueles que saem velejando em cruzeiro pelo mundo, desfrutando dos rendimentos acumulados durante a vida, até os que se resignam a buscar trabalhos em condições precárias para ajudar no sustento da família. Nesse último caso, as pessoas não têm escolha, optarão por algo que garanta uma renda complementar, sem ter a liberdade de escolher um trabalho com horário mais flexível ou que seja mais prazeroso. Porém, uma coisa é certa: com tantas mudanças em vigor, a noção de aposentadoria aos 60-70 anos também está em plena transformação. Se você tem mais de 50 anos, é funcionário público ou celetista, já deve ter sido afetado pelas mudanças na legislação que jogam a aposentadoria cada vez mais para longe. A geração anterior à nossa era considerada e sentia-se velha aos 50-60 anos. E a expectativa de vida não ia muito mais além. Porém, como nos mostra o historiador #YuvalNoahHarari (21 Lições para o Século 21), progressivamente a longevidade do ser humano se estende, graças à tecnologia. Ele fala que buscamos a imortalidade! Assim, uma parte significativa da população (e aqui, outra vez, pesam as condições de vida) chegará aos 80 ou 90 anos em pleno vigor. Nesse sentido, todos serão desafiados a reinventar-se muitas vezes durante sua vida, especialmente quando completar 100 anos for um fato corriqueiro. Isso já acontece. Lembramos da história de #AnnRusellMiller, a milionário americana falecida recentemente aos 92 anos: Nascida em 1928, em sua juventude viveu como uma jovem milionária excêntrica. Casou-se e teve 10 filhos. Neste período, além de ser uma excelente mãe, era conhecida por levar seus amigos para esquiar, navegar ou a escavações arqueológicas. Também por ser membro de 22 diretivas de organizações, onde arrecadava dinheiro para universitários talentosos e para as obras da igreja Católica. Ficou viúva em 1984 e cinco anos depois abandonou tudo o que tinha pra unir-se à Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Monte Carmelo, em Des Plaines. Trata-se de ordem contemplativa: as religiosas nunca saem, só falam o imprescindível, destinando seu tempo à contemplação e à oração. Enfim, foram três vidas distintas em uma! Como discutido na crônica anterior, a história de Ann nos remete para a importância de estabelecermos diálogos permanentes com nosso próprio eu, tendo em vista a construção de uma aposentadoria que gere plenitude em todas as áreas. Voltando a Yuval Noah Harari, o aumento de nossa expectativa de vida, somado às mudanças que não param de ocorrer devido às novas tecnologias, indica que precisaremos criar novas possibilidades. Mudar de profissão (porque a que tínhamos deixou de existir, por exemplo). Ou simplesmente porque queremos testar coisas novas. Portanto, aposentar exige um longo processo de preparação afetiva, psíquica e emocional. É preciso fazer rupturas, identificar nossas necessidades de aprovação a partir do trabalho, reconhecer as vaidades e apegos que nos limitam e impedem de tomar decisões. Dar um salto para um reconhecimento interno, em que criamos condições para recomeçar com novas bases. Não sabemos o que vai acontecer com as aposentadorias no futuro. De todas as formas e situações, ela é um bom momento para reconstruir novos caminhos. Com toda certeza, nós as autoras deste texto, concordamos com Raul Seixas: “Eu é que não me sento /No trono de um apartamento/ Com a boca escancarada cheia de dentes / Esperando a morte chegar…” Nada contra os que querem ou podem sentar-se e apenas esperar a morte. Mas há um mundo aí fora oferecendo oportunidades diferentes… Para os que tiveram o privilégio de aposentar-se, este é um bom momento para ousar. Pode ser uma ocasião para investir na sua vida pessoal, percorrer as trilhas nunca antes exploradas. Ou então para buscar novos desafios, quem saber retomar antigos sonhos e vocações. Ou até mesmo deliciar-se em cuidar dos netos ou dos pais. Qualquer que seja a sua escolha, fique atento para não ser dominado pela ditadura do tempo. Que mudanças precisamos fazer para ter uma aposentadoria que gere qualidade de vida para nós, para o outro e para o planeta? Como

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