“PM que matou a família não tinha transtorno mental: era um bolsonarista normal”

Por Rita Almeida

 

Quando temos notícia de crimes bárbaros como o desse policial que matou a esposa, 3 filhos, a mãe, o irmão e mais outras 2 pessoas sem parentesco, logo imaginamos que se trata de uma pessoa com transtornos mentais graves, um psicótico ou coisa do tipo. Fazemos isso, na tentativa de afastar de nós, “os normais”, a possibilidade de cometer esse tipo de atrocidade, mas o fato é que essa relação direta e inequívoca, não existe.

Eu ouvi o áudio do assassino dizendo de suas motivações um pouco antes da chacina e não vi ali nenhuma psicose, nenhum delírio, nenhuma distorção de realidade, ou qualquer coisa que demonstrasse perda de realidade ou incapacidade de julgamento moral. Ele inicia o áudio pedindo desculpas, ou seja, tem noção de estar cometendo um crime, em seguida diz da sua motivação que é real, nada delirante: a esposa decidiu se separar e ele “não consegue viver sem ela”.

Diz que dedicou toda sua vida à esposa e deixou até de “pular a cerca”, por isso não merece o abandono, discurso velho e comum na boca do homem queixando de uma separação: “eu não deixei faltar nada, aí ela vem e me falta”. Ele diz que entrou em depressão, mas a depressão que ele descreve nada mais é que uma tristeza motivada pela separação. Por fim, ele descreve o motivo do desenlace: “ela diz que não aguenta mais o fato das coisas serem sempre do jeito que eu quero”. Ou seja, ela tinha razão. Ou as coisas seriam do jeito dele, ou de jeito nenhum: e esse foi seu ato final.

Óbvio que não é possível fazer um diagnóstico preciso a partir de um recorte desse, mas pelo meu histórico de 30 anos trabalhando no campo da saúde mental e pela urgência de enxergarmos esse ato com deve ser, vou me autorizar a dizer que Fabiano Garcia não tinha nenhum transtorno mental (aliás foi o que a PM também informou).

Por mais que seja difícil escutar, o fato é que Fabiano é só mais um homem normal, um machista, misógino normal, armado e empoderado pela farda e pelo Fascismo que nos governa. Só mais um macho normal, do tipo que nós mulheres temos que lidar todo dia, que acreditam que o mundo deve funcionar do jeito que querem ou derrubam o mundo. Só mais um homem normal que não pode ser contrariado nem rejeitado.

Só mais um homem Bolsonarista normal, cidadão de bem, defensor da família, que acha normal um presidente que faz do discurso de ódio, do machismo e da misoginia, politicas de governo. Infelizmente, Fabiano é um homem normal no Brasil de 2022.

Ao contrário do que disse, Fabiano saberia sim viver sem a esposa, o que ele não poderia é viver com a rejeição e a humilhação de uma mulher que ousa contrariar sua vontade. Fabiano não é doente mental, mas é um sintoma do nosso Brasil, em especial o de hoje. Um Brasil violento, bruto, ignorante e perverso, especialmente com suas mulheres.

 

 

Rita Almeida é Psicóloga e Psicanalista, mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e atuante na Rede de Saúde Mental do SUS.

 

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  1. E desde de quando o artigo de Rita Almeida, é relatório científico esclarecendo o motivo da chacina??

    Para entender o caso, não basta “30 anos” na área de saúde mental e, julgar com base em observações empíricas…

    É imperioso APRENDER COM o MÉDICO, PSIQUIATRA FORENSE, Cesare Lomboso(1909) !! E para isso é necessário ler o livro dele cujo título é: O Homem Delinquente.

    Em síntese, sua teoria contou com a análise de mais de 25 mil reclusos de prisões europeias. Além disso, seis mil delinquentes vivos e resultados de pelo menos quatrocentas autópsias. A partir do estudo realizado, Lombroso constatou que entre esses homens e cadáveres existiam características físicas psicológicas, que o fizeram crer que eram os estigmas da criminalidade.

    Para ele, o CRIME era um fenômeno BIOLÓGICO. E NÃO um ente JURÍDICO, como afirmavam os clássicos.
    Assim sendo, o criminoso era um ser ATÁVICO, um selvagem que já nasce delinquente. O positivismo criminal de Lombroso buscava através da análise dos fatos, explicar o crime sob um viés científico. Em suma, concebia o
    criminoso como um indivíduo DISTINTO dos demais, um SUBTIPO HUMANO.

    Cesare Lombroso relacionava o
    delinquente nato ao ATAVISMO. Logo, características físicas e morais poderiam ser observadas nesse indivíduo. De acordo com essa ATRIBUIÇÃO, o delinquente NATO possuía uma série de
    estigmas degenerativos
    comportamentais, psicológicos e
    sociais que o reportavam ao
    comportamento semelhante de
    certos animais irracionais, plantas e a tribos primitivas selvagens.

    Ele relacionava à loucura moral e à epilepsia, afirmando que o criminoso nato, que não LOGROU ÊXITO em sua EVOLUÇÃO, tal qual uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao MUNDO dos VALORES.

    Mencionava, ainda, que a HEREDITARIEDADE é uma das
    grandes causas da criminalidade,
    realçando a importância de seu
    conhecimento e relevância. Além do criminoso “nato” (atávico), Lombroso ainda afirmava que o DNA atávico criminoso pode estar em estado latente em “muitas pessoas a espera de um motivo para despertar”. E esse Atavismo, pode ter origem em várias gerações pretéritas do criminoso.

    Lombroso ainda distinguia mais cinco grupos de delinquentes. Em resumo:
    1. o delinquente moral;
    2. o epilético;
    3. o louco;
    4. o ocasional; e
    5. o passional.
    Entretanto, dentre as seis classificações, deu atenção especial ao delinquente NATO e ao delinquente MORAL. Cesare Lombroso nunca afirmou que todos os criminosos eram natos, mas que o “VERDADEIRO” delinquente, ERA NATO.

    Por fim, vejo o caso em comento como: LOUCURA, conforme os estudos de Cesare Lombroso, ou, loucura em decorrencia da sífilis terciária, (Nesse caso teria que fazer exames).

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