A cidade fria. Candidatos prometem teto para o povo, problema grave, a falta de habitação. A cidade cinza. Existe cor na cidade? Até o céu está sem cor. Muito além dos prédios altos, meus pensamentos voam. Quantas cidades eu vivi? A mesma cidade, sempre se transformando, tanta gente, tanta coisa, a gente até se perde. Se perde na memória, na história. A cidade, grande demais. Nessa manhã, como nunca antes, está nublado, e vou com esses pássaros, – talvez abra um solzinho de fim de inverno, coração, até aos recantos perdidos, lembrança das casas, das ruas, dos bairros, a imensa e sem cor cidade que é só minha, que eu guardo. Meus tetos, meus cobertores. Chuveiros elétricos, contas de luz, água da Sabesp. Em cada escritório, sede, local de trabalho que eu estive, lugares distantes, às vezes olhava pela janela e sabia, tinha a certeza: vou lembrar e sentir saudades. A cidade se perde ou a perdemos. Dona Veridiana, Laboriosa, Itararé, foi tudo meu um dia. A cidade tem um teto de chumbo e se à tarde chover ou só garoar, eu terei ganas de viver mais um teto, uma rua, morar na tenda frágil do meu coração. Faz 15 graus.